As cortinas ainda nem haviam sido abertas e já tinha gente gritando expressões que qualquer fã do seriado Chaves entende, do tipo "já chegou o disco voador" e "Pepe, já tirei a vela". O público no UCS Teatro era pequeno - a organização contabilizou cerca de 250 pessoas - mas todos pareciam ansiosos para ver de perto o dono da vila que a maioria ali já havia sonhado habitar um dia. Antes de Edgar Vivar pisar no palco para apresentar o show O Senhor Barriga é Jovem Ainda, na noite de segunda, em Caxias, uma voz igualzinha a do apresentador Silvio Santos saudou os presentes:
- O Senhor Barriga é de um programa que passa no SBT. Eu não vi, mas minha esposa viu e disse que é muito legal!
Depois da frase clássica do eterno patrão, a plateia conferiu um vídeo com uma compilação hilária: só as recepções mais calorosas que o Senhor Barriga recebeu na vila. E a trilha sonora que embalou infâncias, adolescências e vidas adultas virou música ao vivo. A banda batizada de Os Inquilinos do Senhor Barriga (um quarteto bem competente de guitarra, baixo, bateria e teclado) entoou a clássica canção de abertura do seriado no canal do Silvio. Só então o ator Edgar Vivar surgiu no palco com o visual pelo qual ficou reconhecido internacionalmente - a pasta preta nas mãos, o terno escuro, e, claro, a gravata que "é que nem sogra, não serve para nada e ainda sufoca a pessoa". Com uma barriga bem menor, ok, mas esbanjando simpatia e vitalidade aos 68 anos, o ator puxou a canção Churi, Churin, Fun Flais, do episódio de Chapolin que recria a história de Branca de Neve.
Na primeira saudação aos fãs, Vivar se apresentou como o dono da vila onde Chaves vive, como se alguém tivesse alguma dúvida da sua identidade. Falando um português bem compreensível, ele já começou a interagir com os presentes. Perguntou a profissão de algumas pessoas e um dos questionados disse que não trabalhava.
- Você se chama Seu Madruga também? - perguntou ele, provocando risadas.
Numa alusão a um dos mais queridos episódios de Chaves, Senhor Barriga começou a contar uma história enquanto um dos integrantes da banda fazia a sonoplastia (bem parecido com o que fazem Chaves e Chiquinha durante o Festival da Boa Vizinhança). Num dado momento, há uma tremenda confusão de barulhos e o que se destaca é um contundente miado. O suposto "sonoplasta" argumentou depressa:
- Outro gato - referindo-se ao episódio em que a turma de Chaves entra na casa da Bruxa do 71, e arrancando gargalhadas do público.
Além da banda, outro companheiro de Vivar no show é Gustavo Berriel, dublador do próprio Senhor Barriga, Nhonho e Jaiminho Carteiro no desenho do Chaves - versão mais contemporânea da saudosa série exibida desde 1984 no Brasil. As interações do Barriga com as vozes desses personagens conferem momentos bem engraçados ao espetáculo. A sensação da maioria é certamente de nostalgia ao escutar ao vivo expressões como "é que eu quero evitar a fadiga", ou "olha ele, olha ele". Nostalgia também era o sentimento que pairava no teatro a cada vez que a banda começava a tocar. Rolou Jovem Ainda, Que Bonita Sua Roupa, A Brincar, Taca la Petaca, Quero Ver Outra Vez, enfim, todos os maiores clássicos musicais da série.
No telão, imagens raras de bastidores mostraram o entrosamento entre os atores durante viagens e apresentações em países diferentes. Também houve um momento de homenagem de Vivar para os ex-companheiros de set de filmagem. As palmas aumentaram quando os rostos de Roberto Bolaños (o Chaves) e Ramón Valdés (o Seu Madruga) apareceram, de longe, os personagens mais saudados até hoje.
Para finalizar, Senhor Barriga escolheu a emblemática e emocionante canção Boa Noite Vizinhança.
- Eu vou, mas meu coração fica - disse ele, na despedida.
Os fãs - Assim como os integrantes da banda de Vivar, a maior parte da plateia presente no UCS Teatro tinha, no máximo, 30 anos. O fato de terem crescido na companhia de Senhor Barriga, Chaves e outros moradores da vila talvez explique a proximidade gigantesca que ainda sentem com a série exibida pelo SBT.
- Acho que por ser latino, (o seriado) mostra uma realidade muito mais próxima de nós do que aqueles enlatados americanos. Não tem humor parecido, nunca vai ter - argumentou o bibliotecário Marcelo Bohm, 26 anos, que foi acompanhado do amigo Gabriel Velho, 23, conferir o espetáculo O Senhor Barriga é Jovem Ainda.
Assim como eles, a estudante de Comércio Internacional Carla Malva, 20, era só animação para ver um dos ídolos da série que assiste desde bem pequena.
- Os valores que eles passam são válidos ainda hoje. Fazem um humor sem apelação - disse a guria.
- É um humor poético - acrescentou a mãe dela, Hilda, 55, que passou a gostar da série no momento em que começou a prestar atenção na mensagem que as histórias passavam.
Em 2014, a série Chaves completa 30 anos no ar na televisão brasileira.