Por onde andam as canções de protesto, as músicas rebeldes, as polêmicas capas de discos? Fazendo um rápido exercício de regressão, é fácil lembrar que os artistas brasileiros dos anos 1960 e 1970 tinham a política em suas entranhas. E não poderia ser de outra forma, já que a ditadura era tema incontornável e um monstro a ser combatido.
Na década seguinte, houve o boom de bandas de rock no país, com irônico destaque para Brasília. O protesto ganhou em amplificação e se popularizou ainda mais com bandas como Capital Inicial, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana, que em 1987 perguntou, para todo mundo ouvir: "Que País É Este?"
A música, ao que parece, mudou de rumo. As canções agora se tornam autorreferenciais, e falam mais sobre a condição de seus criadores no mundo do que sobre política. O que houve?
Jankiel Francisco, 32 anos, o Chiquinho, professor comunitário e fundador do grupo de hip hop caxiense Poeta Divilas acredita que o problema maior está na educação.
- Estamos congelados nesta cultura de fácil interpretação. Não conseguimos estimular o aluno a refletir e criar opiniões, então o conhecimento é superficial - opina.
E as consequências aparecem, também, na música. Com a capacidade de interpretação cada vez mais debilitada, músicas ideológicas perderam sua força. Melhor para o refrão chiclete que atrai praticamente todos os públicos.
- Prefere-se fazer uma música não politizada, de refrão fácil, mas que pode virar tema de novela.
Cultura de fácil interpretação
Compositor de Caxias do Sul tenta explicar o sumiço das canções de protesto na música brasileira
Do rap ao samba, a política não está mais nas letras
Leonardo Lopes
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