Na avaliação do escritor mexicano Juan Pablo Villalobos - que estará em Caxias do Sul nesta terça-feira para um bate-papo, às 18h, no Auditório da 28ª Feira do Livro, na Praça Dante Alighieri -, o que mais atrai o público no seu livro Festa no Covil é a voz narrativa: uma criança, no caso, o menino Tochtli, filho de um narcotraficante, que vive isolado do mundo, às voltas com seus dicionários e seu minizoológico.
- É uma voz ao mesmo tempo cruel e inocente, em que questões muito fortes e violentas são narradas de uma perspectiva sem moral, porque uma criança não tem uma visão completa do mundo ainda, não tem um sistema de valores.
Villalobos conta que experimentou diversos outros pontos de vista até chegar a esse: em terceira pessoa, na voz do pai, na voz do tutor. Mas foi quando resolveu tentar a voz de Tochtli que viu ter encontrado o tom certo.
A escolha trouxe, ao mesmo tempo, vantagens e desvantagens. Na primeira categoria, está justamente a possibilidade de o narrador ser politicamente incorreto ("uma criança tem uma liberdade muito maior de falar besteira", diz). Na segunda, a dificuldade de se colocar no lugar de uma criança.
O autor conta que houve leitores e críticos que o saudaram por ter conseguido entrar tão bem na cabeça de uma criança (embora Tochtli, por conta de seu amor às palavras difíceis, muitas vezes falar como um adulto). Outros, diz, reclamaram que aquela não era a visão de alguém dessa idade. Para Villalobos, nem uma coisa, nem outra.
- Temos de lembrar que Tochtli não é uma criança real, é um personagem infantil, uma voz determinada pelas circunstâncias, pelas características do personagem - diz, e acrescenta: - Para mim, a literatura não tem nada a ver com a realidade. Ela só pode ser julgada pelas regras da literatura, não da vida.
Literatura
'A literatura só pode ser julgada pelas regras da literatura'
Escritor mexicano Juan Pablo Villalobos conversa com os leitores nesta terça, às 18h, no auditório da 28ª Feira do Livro de Caxias do Sul
Maristela Scheuer Deves
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