Parece engraçado imaginar que, na praia, alguém vá se abrigar numa sala escura enquanto as noites de verão estão bombando lá fora. Mas é justamente nesta época que as sessões do Cineclube Torres costumam ter mais procura, por conta do maior número de pessoas circulando na cidade, um dos destinos mais procurados do litoral gaúcho. O atrativo é uma programação pensada para oferecer filmes fora do circuito comercial e que sejam tão inesquecíveis para os espectadores quanto as próprias paisagens de Torres.
Criado em 2011, o Cineclube Torres oferece sessões gratuitas de filmes cult (em suportes de DVD e Blu-ray) no Auditório José Antônio Picoral, sempre às segundas-feiras. A programação 2019 se inicia hoje, com o filme A Caixa, do português Manoel de Oliveira.
– Começou com clássicos ligados ao cinema de arte e, desde 2012, tentamos trazer filmes de expressão ibero-americana, até para valorizar essa matriz castelhana com europeia que forma o Rio Grande do Sul. Tentamos mostrar filmes que resgatem essa cultura e que desenvolvam um pensamento crítico sobre a arte cinematográfica e o que ela representa. O cinema como janela para uma realidade, como ferramenta que filtra temáticas de forma inovadora e fora do padrão – conceitua o italiano Tommaso Mottironi, arquiteto por formação e apaixonado pelo mundo das artes, hobby que o levou à criação do cineclube.
Além de possuir 68 sócios que se revezam nas sessões, o cineclube tem um público muito diverso. Fora da alta temporada os filmes costumam reunir até 30 pessoas, no verão esse número pode dobrar, mas não há uma regra. Mottironi evidencia o fato de o cineclube contar com muitas parcerias, além de, atualmente, contar com recursos provenientes do Pró-Cultura RS FAC (Fundo de Apoio à Cultura). A aprovação no edital garante uma programação com pelo menos 15 filmes até março, contemplando diretores como os brasileiros Kleber Mendonça Filho e André Ristum, o chileno Patricio Guzmán, o argentino Daniel Burman, entre outros.
– Faço questão de ressaltar a importância do fomento público, uma importância econômica e cidadã, que garante crescimento e consciência crítica – defende Mottironi, também conhecido como idealizador do 8 ½ Festa do Cinema Italiano, festival com 10 anos de história.
Apesar de nunca ter interrompido as atividades, o Cineclube Torres já enfrentou muitas dificuldades nesses oitos anos, principalmente com relação ao espaço disponibilizado para as sessões. Hoje, Mottironi comemora o fato de a iniciativa ter como sede um espaço público, justamente o mesmo que, no final dos 1950, era o único do interior do Estado a abrigar um projetor de cinema de grande porte. Valorização da memória que o cineclube celebra mirando o futuro.
– Acho que a cultura cinematográfica vai sobreviver como cultura de encontro, onde a gargalhada de um solta a gargalhada de outros, onde as pessoas saem conversando sobre o que viram. Essa vivência cultural tem que sobreviver em algo que oferece conteúdo, encanto, troca, socialização – sinaliza.
Programe-se
JANEIRO
:: Dia 7, às 20h: A Caixa (1994), de Manoel de Oliveira - Portugal.
:: Dia 14, às 20h: O Décimo Homem (2016), de Daniel Burman - Argentina.
:: Dia 21, às 20h: O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho - Brasil.
:: Dia 28, às 20h: A Ilha da Morte (2007), de Wolney Oliveira - Cuba.
FEVEREIRO
:: Dia 4, às 20h: Hermano (2010), de Marcel Rasquin - Venezuela.
:: Dia 11, às 20h: Meu País (2011), de André Ristum - Brasil.
:: Dia 18, às 20h: Viver é Fácil Com os Olhos Fechados (2013) de David Trueba - Espanha.
:: Dia 25, às 20h: Singularidades de uma Rapariga Loura (2009), de Manoel de Oliveira - Portugal.
:: Dia 28, às 20h: Cinecult Doc com O grande Tambor (2010), do Coletivo Catarse - Brasil.
MARÇO
:: Dia 4, às 20h: A Noiva do Deserto (2017), de Valeria Pivato e Cecilia Atán - Argentina.
:: Dia 8, às 20h: Sessão Especial Dia da Mulher com A Memória Que Me Contam (2012), de Lúcia Murat - Brasil.
:: Dia 11, às 20h: Uma Mulher Fantástica (2017) de Sebastián Lelio - Chile.
:: Dia 18, às 20h: Um Filme Falado (2003), de Manoel de Oliveira - Portugal.
:: Dia 25, às 20h: Pantaleão e as Visitadoras (2000), de Francisco Lombardi - Peru.
:: Dia 28, às 20h, Cinecult Doc com Nostalgia da Luz (2010), de Patricio Guzmán - Chile.
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