um viva a Otto I
Antes do ótimo filme de Laís Bodanzky, Como Nossos Pais, ocupar o telão do Palácio dos Festivais na noite de sábado, o 45° Festival de Cinema de Gramado entregou o troféu Eduardo Abelin a Otto Guerra. Teve vídeo no estilo Arquivo Confidencial (só que cheio de zoeira, claro) e teve discurso emocionado do cineasta que está completando 40 anos à frente da animação gaúcha.
Otto comemorou o fato de 25 longas de animação estarem em produção no Brasil neste momento e ainda refletiu sobre o momento político do país.
– Essa ferida que dividiu o país precisa ser colada. Nossa cultura é muito rica. O Brasil é um grande país, a gente pode ser a saída para um mundo nem tão mesquinho. O Brasil tem a chave para isso – disse.
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um viva a Otto II
Poucas horas antes da homenagem, durante a tarde, Otto foi o centro das atenções de uma coletiva de imprensa no Mundo do Chocolate, uma das deliciosas tentações gastronômicas de Gramado.
– Estou fazendo uma campanha para fazer um boneco meu de chocolate, isso aqui é muito louco, né? Chocolate é puro prazer, eu quando fico meses sem sexo como chocolate (risos) – disse.
Rodeado por cascatas, rios, monumentos e muitas outras miniaturas de chocolate, Otto foi desafiado pela coluna a pensar algum personagem animado para habitar aquele ambiente:
– Seria legal um monstro tipo aquele Godzilla, mas de chocolate, combinaria até pela cor dele.
Na conversa com jornalistas, o animador falou ainda sobre o que um prêmio como o Eduardo Abelin representa.
– É uma legitimação... Subi meu cachê agora de R$ 1 mil para R$ 1,5 mil para participações em palestras (risos). Falando sério, minha mãe, se estivesse viva, ia gostar de ver isso. Ela costumava dizer "meu filho, esse aqui, deu ruim". Imagina, o outro é médico (risos).
Entre as muitas piadas, o cineasta falou sobre sua trajetória, sobre a importância do festival e até sobre o momento politicamente correto do humor ("uma maneira de desmistificar o tabu é falar a respeito dele"). O diretor também garantiu que voltará ao festival ano que vem com o novo trabalho, Cidade dos Piratas (baseado na obra da cartunista Laerte), e leu ao público – em primeira mão – um pequeno trecho que deve abrir sua autobiografia, com lançamento para breve:
– Sentado à janela enquanto anoitece, ouço perturbadores sons urbanos mal amplificados pelo aparelho da minha orelha esquerda (está usando aparelho para escutar melhor) e me pergunto: quem é esta figura que aparentemente sou eu? Se nem isso sei, como contar sua história?
Indicação animada do Otto Guerra:
– Recomendo a animação brasileira Irmão do Jorel (exibida pelo Cartoon Network). É uma espécie de evolução do Bob Esponja, vai além disso, e vai além do Family Guy, com uma crítica social contundente e várias camadas de leitura.