O flyer chamava para uma festa suingada, com Neguim Beats, de Goiânia, em Caxias. A foto logo aciona o flash do olho mais esperto, politizado, antenado: é blackface, é racismo, é crime. E veio o dilema.
O recurso, entenda-se, era usado de forma estereotipada no teatro para caracterizar personagens negros. No ano passado, o blackface usado na peça A Mulher do Trem, do grupo Os Fofos, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo, foi motivo de protestos. Na última sessão, o espetáculo não foi encenado. A apresentação deu lugar a um debate contundente sobre antigos e novos regimes de segregação e racismo na vida cultural, no mundo contemporâneo.
Eliane Brum escreveu um artigo vigoroso sobre o debate em questão cujo título, precioso, é No Brasil, o melhor branco só consegue ser um bom sinhozinho.
Por aqui, instaurada a questão pelas redes sociais, com postagens, alertas, réplicas e tréplicas, armaram-se uma série de desculpas, 'não foi bem isso', 'não era aquilo' pelas mesmas redes sociais, incluindo corações, pedidos de desculpas e retratações. Depois, tudo sumiu desses perfis.
Não é o melhor dos fóruns de diálogo, mas teria sido um aprendizado seguir a conversa. Ou será que apagamos o dilema? Não. Há a clara sensação de 'precisamos falar mais sobre...'. Os novos migrantes caxienses que o digam.
Uma chance para retomar o assunto: sábado, 16, às 15h, na Paralela, o Circuito de Assuntos Necessários tematiza a Discriminação Racial. Ela anda por aí, nos supreendendo e nos desafiando, é sutil, sorrateira, disfarçada, maquiada.
No mais, viva Caetano: 'Neguinho não lê, neguinho não vê, não crê, pra quê?/ Neguinho nem quer saber/ O que afinal define a vida de neguinho.'