Pedro Guerra
Você já reparou como nada volta a ser do jeito que já foi um dia? A ideia surgiu quando eu decidi desmontar a árvore de Natal na semana passada. O momento, que por si só já é um pouco traumático (você sabe, ele nos coloca frente a frente com o ano gigantesco que está por vir e isso dá um medo danado, além de simbolizar o adeus às férias na maioria das vezes), agravou-se quando eu tentei colocar todos aqueles galhos dentro da caixa de papelão. Tive que recomeçar umas três vezes, simplesmente porque a estrutura não cabia mais ali. Foi como se a árvore dissesse: depois que as coisas são vividas ou ganham o seu poder de uso, elas nunca mais voltam a ser as mesmas. Nem preciso dizer que isso serve de metáfora para as pessoas e situações da vida. É um pouco óbvio. Não precisamos de grandes aventuras ou traumas para entendermos que, depois de viver (o que quer que seja), dificilmente retornaremos para a nossa forma inicial – sejam as nossas convicções, as nossas pretensões ou até mesmo a nossa aparência física. Tal como a árvore, no espaço nos alargamos, e é engraçado pensar que jamais voltaremos a caber nos lugares que já frequentamos, nos lugares que afirmamos ser nossos durante tanto tempo (será que ainda são?).