Você já reparou como nada volta a ser do jeito que já foi um dia? A ideia surgiu quando eu decidi desmontar a árvore de Natal na semana passada. O momento, que por si só já é um pouco traumático (você sabe, ele nos coloca frente a frente com o ano gigantesco que está por vir e isso dá um medo danado, além de simbolizar o adeus às férias na maioria das vezes), agravou-se quando eu tentei colocar todos aqueles galhos dentro da caixa de papelão. Tive que recomeçar umas três vezes, simplesmente porque a estrutura não cabia mais ali. Foi como se a árvore dissesse: depois que as coisas são vividas ou ganham o seu poder de uso, elas nunca mais voltam a ser as mesmas. Nem preciso dizer que isso serve de metáfora para as pessoas e situações da vida. É um pouco óbvio. Não precisamos de grandes aventuras ou traumas para entendermos que, depois de viver (o que quer que seja), dificilmente retornaremos para a nossa forma inicial – sejam as nossas convicções, as nossas pretensões ou até mesmo a nossa aparência física. Tal como a árvore, no espaço nos alargamos, e é engraçado pensar que jamais voltaremos a caber nos lugares que já frequentamos, nos lugares que afirmamos ser nossos durante tanto tempo (será que ainda são?).
Também é uma comparação óbvia, mas vamos lá: ficamos durante nove meses na nossa primeira caixa. No ventre. Somos expulsos a contragosto (eu acho), ou simplesmente porque não cabemos mais. Talvez também porque a gente precise viver, conhecer o novo, descobrir algo que jamais poderíamos conhecer se permanecêssemos para sempre acomodados sem a intenção de explorar. Viver é como se fosse uma urgência, sabe? E assim nós nunca retornaremos ao nosso lugar de origem, já que ele não é mais um lugar de pertença. Seremos sempre outros – a todo instante. Que babaquice a minha então de pensar que poderia acomodar a árvore de Natal na mesma caixa em que ela veio embalada de fábrica. Após a sua magnífica estreia (acho que só os meus pais chegaram a vê-la, mas quanto a isso tudo bem, pois estou tentando fazer mais coisas por mim e só), era claro que ela não aceitaria ser espremida, encolhida e literalmente encaixotada em um espaço tão pequeno. Minha árvore abriu os braços, ela abraçou a minha sala por um dezembro inteirinho, ela conheceu tantas coisas que jamais imaginaria ver. Talvez eu devesse seguir mais esse exemplo (sim, de uma árvore de Natal): quando algo nos limita, é preciso romper a barreira entre o comodismo e o infinito de possibilidades que o mundo nos reserva. Afinal, tudo passa. Tudo sempre passará...