Tenho quase certeza de que estamos sempre distraídos demais para esperarmos perguntas inesperadas. Recentemente me perguntaram (assim, do nada) se eu não tinha medo ou até receio de fazer tudo aquilo que faço. É claro que eu não tinha pensado em uma resposta porque nem mesmo havia projetado aquela pergunta. Contudo, aos poucos (porém nada tímida), a resposta saiu: eu tenho medo mesmo é daquilo que ainda não fiz – justamente por ainda não ter feito. Quando entendi que meus projetos loucos e empilhados uns nos outros (é mania de pessoa ansiosa) poderiam ser motivo para medo, pelo menos aos olhos de alguém de fora, passei a repensar. Sabe, tem vezes que precisamos que alguém crie uma certa paranoia na nossa cabeça para que a gente a aumente e cultive como se precisasse dela. Até então, eu nunca tinha pensado que aquilo que faço pode gerar medo. Quer dizer, medo sempre dá.
A gente vive com medo mas não morre de medo nunca. Arrisco até a dizer que é ele quem move grande parte dos nossos feitos, é como se o medo nos impulsionasse. Então, sabendo que somos quase melhores amigos, por que é que eu deixaria qualquer coisa de lado, já que ele estará sempre ali? Eu tenho medo de tudo aquilo que ainda não fiz porque algumas coisas eu já deveria ter feito.
Eu tenho medo é daquilo que ainda não conheço mas quero, das vezes que eu deveria ter dito (e dito muito) mas segurei para mim, dos lugares que eu talvez já conhecesse caso optasse comprar menos roupa. Eu tenho medo do que não vivi porque tudo isso me chama, me espera, e é um medo bom (sim, isso existe). É um convite ao novo, à lembrança de que podemos fazer mais o tempo todo, de que há muito para se viver e se descobrir.
Lembro que uma vez assisti a uma entrevista em que o Tony Ramos contou que um ator novato pediu dicas para parar de sentir aquele tal frio na barriga antes de gravar uma cena. O Tony, por sua vez, virou para ele e disse que rezava todas as noites para que não perdesse aquele medo bobo, aquela ansiedade positiva, aquelas borboletas em descontrole dentro do estômago que sempre temos quando fazemos o que gostamos. Esse é o segredo. Só para de sentir quem já morreu (e nem precisa ser uma morte literal).
Talvez a graça da coisa seja entender que alguns sentimentos negativos também têm o seu lado positivo. Tudo é relativo, tudo vem para o bem se a gente quiser que venha, tudo tem dois lados, e, principalmente, tudo depende de como nós escolhemos enxergar as coisas. Vai dar medo? E muito! Mas vai mesmo assim. O importante é sempre ir.