Meus amigos sempre me chamaram de hipocondríaco. Para honrar o título, então, uma das primeiras coisas que comprei quando decidi morar sozinho foi uma caixa de plástico para guardar os meus diversos e exagerados remédios. Ainda na loja, as opções eram tantas que todo libriano como eu com certeza teria dificuldade. Acabei optando por uma que cabia no orçamento (além de hipocondríaco eu sou pão-duro, pelo visto) e me frustrei assim que mudei de apartamento.
O problema todo foi que os meus remédios não couberam dentro da caixa de plástico. Eu bem que tentei forçar um pouco aqui e ali, mas nada. Resolvi então tirar os comprimidos das suas caixas e consegui alocar alguns a mais. Contudo, ainda era insuficiente. O primeiro pensamento foi de que eu teria que ter comprado uma caixa maior, é claro, mas logo em seguida eu descartei a ideia (obrigado ao meu lado pão-duro, aliás) e fiz uma limpa – dessas que a gente sempre gosta de adiar, sabe?
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Descartei alguns comprimidos que eu nem mesmo tinha percebido que estavam vencidos. Depois, reparei que alguns deles eu nem usava mais, e se eu resolvesse guardá-los seria para ter que jogar fora meses depois quando estivessem vencidos. E assim, aos poucos, o espaço foi suficiente.
O que veio em seguida foi o mais interessante de toda a história: em todas as minhas idas até a farmácia, comprei o básico e nada mais. Nada de levar três caixas de Paracetamol só porque estavam na promoção ou remédio para a gripe que eu ainda nem tenho. De certa forma, acabei me condicionando ao espaço que tinha disponível, e aí, pouco a pouco, passei a tomar menos remédios.
Nossa, fácil assim? Pois é... Por que a vida tem que ser sempre difícil? Talvez seja a gente que adore um drama.
É claro que mudei hábitos e rotina. É claro que percebi que nem sempre preciso de um comprimido para curar qualquer dor, até porque muitas delas são temporárias. Mas a mudança mesmo veio porque eu me condicionei a respeitar o espaço que eu mesmo me permiti – e acho que é isso mesmo que nós temos que fazer na nossa vida. Se há pouco espaço para as tristezas, por que acumular? Se eu quero o meu bem e de todos aqueles que gosto, por que atrair negatividade em questões tão banais?
Hoje eu prefiro viver condicionado a tudo aquilo que é do bem e que, no fim do dia, me faz bem também. Melhor assim.