Acordei com diversos avisos no celular. Eram mensagens de amigos que não paravam de chegar e que me informavam que alguém estava falando de mim em uma rede social. Nem precisei procurar muito, logo encontrei o texto de um professor de pós-graduação em Letras que dizia, suportado por outros escritores, que eu não sabia escrever.
Fiquei mal na mesma hora, pois nunca soube lidar muito bem com a rejeição e com comentários negativos. Traumas causados lá atrás, quando sofri todo o Bullying da minha vida. Meses depois, já com a poeira um pouco mais baixa, fui premiado em um concurso literário importante, e para a minha surpresa, recebi o prêmio das mãos daquele mesmo professor.
Um tempo depois, alguém me chamou só para comentar que achava a minha literatura comercial. No caso, o argumento era de que eu só escrevia para vender. Dediquei algum tempo para repensar tudo aquilo que eu transpunha para o papel, até o dia em que alguns adolescentes disseram que tinham lido o meu livro e que havia sido o primeiro que eles tinham lido do começo ao fim. A partir daí, tornaram-se leitores.
Não adianta. Quem não gosta da gente não vai gostar se não quiser. E a gente bem que tenta provar alguma coisa, mostrar que não é bem assim, e mesmo que a verdade seja dita, quem não quiser não irá acreditar. As pessoas nos veem como querem ver, e o que esperamos que elas vejam não é aquilo que acabam vendo. Cada um tem o seu filtro, cada um enxerga usando a sua própria lente.
Durante anos da minha vida eu quis fazer parte de alguma coisa. O Bullying na época escolar, que inclusive se mostrava por meio da exclusão social, fez com que eu acreditasse que eu precisava provar constantemente o quanto sou bom, o quanto podem gostar de mim. Desde então, eu simplesmente odiava quando alguém tecia algum comentário a meu respeito sem nem mesmo me conhecer. Era quase como um resgate do sentimento que me corroia lá atrás: por favor, goste de mim.
Escrevi um novo livro onde narro Todo o Bullying da Minha Vida (pelo menos até agora) e decidi lançá-lo em cima do palco, em uma peça de teatro. Tenho certeza de que vou escutar fuxicos de que não sou ator, e que de alguma forma as palavras “oportunismo”, “vítima” e outras mais vão aparecer cedo ou tarde. A diferença é que agora eu sei: nós não devemos nada para ninguém.
Minto.
Nós devemos o bem para todo mundo. Constantemente. Nós devemos o respeito, a dignidade, a nossa melhor versão - seja dentro de casa, seja para a moça do caixa do supermercado. A partir daí, o que os outros vão fazer com aquilo que recebem da gente, já não cabe mais a nós.
Não adianta. Quem não gosta da gente não vai gostar se não quiser. E tá tudo bem.