Em dezembro de 2020, poucos dias antes do Natal, desviamos nosso olhar das máscaras e distanciamentos daquele primeiro ano de pandemia para mirar no céu o encontro dos planetas Júpiter e Saturno. Não era uma conjunção rara, ocorre a cada 20 anos, mas aquela tinha um toque especial para os astrólogos: se dava no comecinho de Aquário, significando uma mudança no elemento de fundo das conjunções — em signos de terra — ocorridas nos últimos 200 anos. Pelos próximos dois séculos, os gigantes celestes vão se alinhar em signos de ar. Essa passagem do materialismo da terra para o foco social do ar foi devidamente anunciada como uma mudança de paradigma coletivo.
Não que se tenha virado ali alguma mágica chave cósmica e que, doravante, iremos abandonar sem resistência o culto fundamentalista da economia e instalar um chip mental de consciência planetária. São mudanças lentas e amplas, a compor um grande ciclo, conforme os dois planetas sigam fazendo novos ângulos no céu, indicando assimilações ou embates entre uma velha e uma nova ordem. Agora, neste segundo semestre de 2024, Júpiter, em Gêmeos, e Saturno, em Peixes, estão numa dessas posições tensas, a primeira desde a conjunção que pautou os anseios de futuro (Aquário) em 2020.
O expansivo Júpiter, mais rápido, segue à frente no zodíaco, mas agora, pelo ângulo difícil com o restritivo Saturno, recebe uma espécie de freio. É como uma pausa para necessários ajustes de rumo e cobranças por faltas ou excessos. Temas jupiterianos, como justiça, poder Legislativo, religiões, relações internacionais e até jogos de apostas, ganham destaque nos noticiários exatamente pelo questionamento de suas ações e permissões. Como Júpiter transita em Gêmeos, signo das comunicações, a questão da regulação do uso das redes sociais é outro assunto de urgência sincrônica.
Desde o velho mito, Júpiter e Saturno são princípios opostos. Se Júpiter infla e avança, Saturno contrai e recua. Se o primeiro ousa, o segundo cobra. Nessa simplificação, pode parecer que tudo ligado a Júpiter é promissor, enquanto que cabe ao outro a desagradável fatura pelas benesses. Aliás, a astrologia do mundo antigo já chamava Júpiter de Grande Benéfico, e a Saturno, claro, de Grande Maléfico. Mas, se já não pensamos com a cabeça do mundo antigo, tampouco a moderna astrologia segue essa visão maniqueísta. Precisamos tanto da fé de Júpiter quanto do senso de realidade de Saturno. Tudo se resume a equilíbrio.
Isto posto, e diante da tensão atual entre os princípios planetários, bastaria um senso de medida pautado no que é adequado a todos para que se resolvam os conflitos. E como base para isso existem as leis e a Constituição, por exemplo. Porém, a localização de Saturno no difuso Peixes, e a de Júpiter em Gêmeos, signo oposto ao que rege (Sagitário), ambos signos duais, bagunça bastante a definição dos critérios que poderiam apontar soluções mais imediatas. Junte-se a isso a posição de Netuno também em Peixes, já há muito tempo enevoando a razão coletiva e espalhando alucinações, temos o que temos: muita opinião e rara clareza — e tudo passível de contestação pelos descontentes do que seria o legal.
Lembrando do Chacrinha, parece que a moda agora é tudo vir para confundir, nada para explicar. E nessa onda doida, a produção de mentiras, distrações e relativizações serve aos interesses dos mais espertos e ávidos por domínio. Muito cuidado nessa hora de mais uma etapa eleitoral.
O Brasil já tem Júpiter em Gêmeos no mapa astrológico da Independência, já costuma olhar a lei como algo a ser negociado ou aplicável apenas aos outros, encara a verdade como extensão da própria vontade e os deveres com enorme rejeição. E o belo gigante entorpecido ainda sonha em ser um país sério! E jura que vai dar um jeitinho de isso se realizar sem pagar a conta! Ai, ai, vá brincando com Saturno, vá...