Sol em Virgem, signo da ordem, cedo ao natural convite para refletir sobre a ordem como padrão da vida. Tememos o caos, talvez por um medo inconsciente de retorno ao nada primordial, talvez pelo temor de perder o controle sobre o ambiente, ainda mais quando uma cultura materialista exige atenção contínua aos mecanismos de produção. Daí o nosso mundo ruir se a diarista não vier, se chover no dia do passeio, se o corpo cair de cama, se aquele detalhe fundamental não se cumprir. Por mais confiantes e relaxados que sejamos ante o desconhecido, uma certa ordem sempre se faz necessária no cotidiano. Eis a base de operação de Virgem.
Ora, a ordenação de um sistema exige o conhecimento prévio das partes que o compõem. Há que se atentar para as miudezas. Detalhes tão pequenos podem dar um trabalhão se neglicenciados, quando não inviabilizam o projeto inteiro. Experimente fazer a receita do planejado bolo sem os ovos, por um lapso deixados de fora da lista de compras. Não vivemos sem ordem, por mínima que seja. Que o diga um certo país virginiano que tem a palavra ordem na bandeira e vive criando regras e leis que custará a praticar. Feito um corpo afligido pela desordem de um único órgão, todo o sistema rui pela desatenção a uma mera parte.
O corpo é o mais imediato referencial material da ordem perseguida pelo terrestre signo de Virgem. Por isso, a tradição astrológica associa Virgem à saúde. Cuidar de cada parte é manter o todo em estado saudável e funcional. Evitamos mazelas físicas com zelos rotineiros, aqueles rituais que modelam nosso cotidiano. Já começamos o dia em típicas atividades virginianas, do banho à escovação dos dentes, do café da manhã à louça na pia. E aqui entram os zelos ao nosso entorno, também conectado ao nosso bem-estar, pois não pode haver saúde num ambiente sujo e desleixado. Eis porque atribui-se a Virgem o papel de faxineiro do zodíaco.
Se o corpo é a expressão da natureza em nós, ela, a própria natureza, é outro referencial de ordem virginiano. Isso pode se manifestar de modo literal, num apreço ao puro e natural, no amor por plantas e bichos, no conhecimento do poder regenerativo e curativo de ervas e minerais. E também pela empatia com os animais que possam ser domesticados. Pets em geral são regidos por Virgem.
Todos temos Virgem no mapa astrológico. Mesmo quem não nasceu com o Sol neste signo pode ter outros pontos do mapa acentuados nessa vibração e, assim, destacar muitos dos aspectos citados. Em Virgem concluímos a etapa de crescimento individual iniciada em Áries. Aprendemos a servir e a se aperfeiçoar antes do encontro com o outro, em Libra, o signo seguinte. Precisamos ser úteis a algo ou a alguém, conforme nossas habilidades. E Virgem inventa o trabalho, como signo de terra que é.
Falando em trabalho, no contexto produtivo da Serra gaúcha, Virgem coincide com a etapa de poda dos parreirais. Com capricho e atenção, produtores de uva cortam os galhos secos pelo inverno e, assim, potencializam o crescimento dos brotos que logo virão. É uma tarefa conectada ao tempo natural, de prenúncio da primavera. Observar isso é organizar a vida por uma ordem maior, cósmica.
E falando em ciclos, esta crônica, de número 366, marca os sete anos de criação desta coluna. Espanto-me com o número, mas encontro a virginiana ordem nele contida: uma crônica a cada sete dias e por sete anos corresponde ao número total de dias de um ano. Detalhes virginianos. Ah, a poda do parreiral foi citada na primeira crônica.