Morte do Zagallo? Silêncio do menino Neymar sobre a morte do Zagallo? Alta no preço dos materiais escolares? Tem ou não tem ginecologista no hospital? Nenê na festa do Neymar? Secretário da Saúde preso? Dólar flanando abaixo dos cinco reais? Milei frente a frente com o FMI? Contêineres de lixo em chamas? Como é que se paga o tal do free flow? Tem desvio? Esqueci de pagar ontem o IPTU: Adiló, rubrica meu boleto pra manter o desconto? Tretas do BBB24? Equador sitiado? Carpini no São Paulo? Filho do Lugano no Caxias?
Nenhum assunto reverbera mais do que o calor. 2023 foi o ano mais quente da história. 2024, dizem, vai ser ainda mais quente. Em 2022 já previam que 2023 ia aquecer. O que ninguém previu é que ia ferver. Imagina 2025, 2026... Isso se a gente chegar lá. Numa crônica de novembro do ano passado eu já chamava a atenção pra um fenômeno, que, conforme revela o cientista Peter Becker, da Universidade George Manson, vai provocar um apagão tecnológico no planeta: a supertempestade solar. A chapa vai esquentar.
O que fazer? Temos duas alternativas. A primeira é frear esse trem em desequilíbrio ambiental. A segunda, é mais catastrófica. Acelerar a bagunça, apertando a tecla f*. Esse é o nosso Ca-Ju climático. O dilema não se resolve em mesa de bar. Se bem que uma gelada ajudaria a espantar o calor. Em copo americano, por favor.
Depois da segunda garrafa, alguém é capaz de detonar esses blá-blá-blás de aquecimento global, refutando as teorias climáticas com outras teorias de gente que vê conspiração até em sombra de figueira. Retrucando vão citar Ailton Krenak: “E a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim”. E todos vão gargalhar, brindando o iminente fim dos tempos.
O calor é a piada do sarcástico. O calor é o charme do canalha. O calor não escolhe família, facção ou grupo de oração. O calor derrete químicos e alquimistas. O calor desacelera, te joga numa rede e provoca a libido. O calor confronta o poeta. Serve de que poesia numa hora dessas? Melhor poetizar sob o asfalto quente ou mergulhar no mar azul profundo, a perder o tempo de vista?
Numa hora dessas nada mais importa. Nem mesmo as previsões apocalípticas de que terra e mar vão ferver. O mar é só uma miragem, enquanto ainda sigo deitado nessa rede, ardendo em febre, relendo Caio F.: “Nessa mesma beira de mar das costas da tua terra, e de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias”.
Novas histórias, Caio? Tu e o Krenak estão sempre procurando um jeito de burlar o tempo. E eu acabei caindo nessa mesma armadilha. E já que o mundo não se acabou (ainda), vamos tomar uma gelada? Antes ou depois de mergulhar no mar de azul profundo, sossegado como deveria ser, sobretudo na estação mais quente, no ano que promete ser o mais quente de todo sempre?