Confere aí, em primeira mão, trecho de abertura do primeiro capítulo do livro Quatro amigos e os terríveis cães gigantes, parceria dos escritores Sérgio Brandão e Helô Bacichette, com ilustrações de Wagner Carsten.
A sessão de autógrafos ocorre nesta sexta-feira, às 19h30min, no Zarabatana Café (Centro de Cultura Ordovás - Caxias). No lançamento o livro custa R$ 30.
Trecho do primeiro capítulo:
Mila tapou o nariz para engolir a vitamina de aveia com mel e cereal. Coisas da sua mãe, que insistia em empurrar comida "saudável".
— Odeio esse troço, mãe!
A mãe não respondeu, mas seu jeito de franzir a testa e apertar os lábios dizia tudo. Mila sabia que não conseguiria escapar daquela sessão-tortura.
— Onde já se viu tomar café da manhã de touca. Tira isso da cabeça, Mila.
A voz da mãe parecia distante. Mila mal conseguia escutar o som da TV. Sentia-se cansada demais para responder. Não tinha sido uma boa noite de sono.
— Puxa, mãe. Vê se para de xingar. Não dormi direito e quando acordo é só briga — resmungou.
A imagem do cão que assombrara seu sono na noite anterior dava reviravoltas na sua cabeça. "Não era apenas um cão" _ disse para si mesma enquanto tentava engolir a última medida daquela gororoba matinal. "Era uma criatura medonha que acompanhava o homem do chapéu". O mesmo homem que morou por um tempo na pensão da dona Olinta.
— Mãe, lembra daquele vizinho que usava um chapéu preto e que vivia cavando buracos no jardim da pensão? Lembra que ele sempre pegava as correspondências, sentava debaixo da árvore e ficava lendo até tarde da noite? Lembra que lia com a luz da lanterna? — falou, atropelando as palavras.
Mila não escutou a voz da mãe. Insistiu:
— Mãe? — falou mais alto, angustiada com o silêncio.Lembra do cachorro preto que enfiava o focinho na cerca e rosnava quando enxergava o Buddy?
Dona Márcia apareceu na porta da sala segurando uma espátula de bolo. O lenço amarrado na cabeça da mulher parecia um turbante.
— Lembro de tudo isso, mas o que tem a ver aquele homem estranho com sua falta de vontade de comer, com sua preguiça de ir para a escola?
Mila olhou para a mãe e sacudiu os ombros.
Dona Márcia aproveitou o momento de silêncio da filha e continuou disparando reclamações:
— Não vou responder enquanto você não tirar essa touca. Custava levantar cinco minutos mais cedo? — falou, com voz alterada e sem paciência para conversar com a filha.
Mila olhou para o relógio e arregalou os olhos quando viu que a mãe vinha na sua direção com passos firmes.
— Calma! Que visão sinistra, mãe! — brincou. Fala da minha touca. Dá uma olhadinha no espelho, dona Márcia! — divertiu-se com a cara que a mãe fez quando se lembrou do lenço que tinha na cabeça...