Era pra ter sido uma crônica sobre o documentário Opinião Pública, do jornalista e cineasta Arnaldo Jabor, que morreu na terça-feira. Só que aí a vida nos esfrega na cara um tema que tem mais conteúdo emocional, na sua mais íntima visceralidade, e então é preciso deixar de lado a abordagem estética e linguística, fruto de uma narrativa de um cronista focado em dissecar a classe média, pra que eu mesmo tivesse de enfrentar meus medos sozinho, diante do espelho.
E, por um momento, ali, no espelho, passei a enxergar, como se fosse através de um portal, pais e mães em duelo com a educação de seus filhos. E percebi que o meu conflito é o mesmo de tantos outros pais e se revela de uma forma mais profunda do que a velha e batida frase “é coisa de adolescente”. Não se trata de ficar incomodado com um comportamento questionador, que parece senhor de seus domínios, apesar de toda a fragilidade que irradia de uma alma juvenil. Até porque, posicionamento crítico faz bem pra saúde e pro intelecto.
Tampouco me incomoda a fossa profunda, que verte vez ou outra, fruto de uma decepção amorosa ou da amiga que, do dia pra noite, resolve mudar de melhor amiga. Até aí, superaceitável, porque os dramas são sempre do tamanho da nossa maturidade. Da mesma forma que o tipo e o tamanho da ferida são resultado das guerras que enfrentamos. Entram nessa mesma seara os sons que embalam as tardes e noites arrastadas em tédio dos adolescentes que se julgam sempre incompreendidos pelos pais. E os pais que se virem carregando suas cruzes, ao som de Legião Urbana.
Talvez seja bem difícil pra um filho entender que os pais também têm suas fragilidades. Psicólogos, psiquiatras, psicanalistas e professores ouvem o dia todo dos adolescentes que os pais deles pegam no pé, são rabugentos, esquizofrênicos, estão sempre vigiando, querendo descobrir as senhas do celular e do e-mail, são controladores e chatos, além de palavrões e frases recheadas de ira. E, no final das contas, entre idas e vindas, ambos sentados no divã, pais e filhos voltarão a navegar por mares de águas, de vez em quando, tranquilas e quase sempre sujeitas a trovões, tempestades e tsunamis.
Me preocupo com meus filhos, não porque estão a enfrentar – ou enfrentarão – a espinhosa adolescência, nem porque não me sinta plenamente preparado pra encarar cada uma das surpresas que virão. Da minha fragilidade cuido eu. Por outro lado, não pretendo colocar meus filhos em uma redoma, a fim de repelir toda a má influência – até porque tenho convicção de que os meus também caem nessa armadilha de armar arapucas aos outros e precisarão aprender a lidar com as consequências de seus atos.
A minha preocupação é fruto do amor infinito. Nunca cobrei a reciprocidade, porque não amo à espera de que meus filhos retribuam na mesma medida e intensidade. Meu choro só verte em uma situação: quando me fazem de idiota, com argumentos e expressões dissimuladas, recheadas de mentira. Apesar disso, navegar em amor é preciso. O tempo cura, mas deixa marcas.