O anúncio, em agosto, de uma empresa de Sociedade Anônima pela Unimed Nordeste, deixou a comunidade curiosa: quais vantagens trará para os usuários do plano de saúde? Conforme o presidente da Unimed Nordeste e também da holding, André Leite, são muitas.
A S.A. irá possibilitar a prospecção de novos negócios, novas parcerias e outras fontes de receita que irão favorecer os consumidores. Nesta entrevista, ele detalha os benefícios e fala de novidades no complexo hospitalar da cidade. Além disso, conta como se tornou médico e como veio para Caxias:
— Sou de Rio Grande, mas eu já ganhei o gringo card, já estou aqui há mais de 30 anos.
Confira:
Como está o processo de criação da S.A e o que irá representar para a Unimed e para a comunidade?
Quando a gente faz esse tipo de movimento, a gente precisa que isso seja homologado na Junta Comercial e quando é uma Sociedade Anônima leva uns 60 ou 90 dias. Ainda estamos em fase de homologação, o que não quer dizer que já não estejamos fazendo reuniões para buscar entender melhor que tipo de operação a gente leva para a holding, que tipo de operação a gente deixa dentro de casa. Para nós, isso significa uma quebra de paradigma muito importante, porque a Unimed é uma empresa já consolidada no mercado, vai fazer 52 anos e é uma marca que tem o maior market share da região. Somos o maior operador de plano de saúde do país com 20 milhões de beneficiários e a gente quer consolidar essa marca, mas no sentido de a gente aumentar o nosso portfólio de produtos e serviços, porque hoje a ANS (Agência Nacional de Saúde), que regulamenta os planos de saúde, não permite que tu tenhas outra atividade que não aquela do core business da empresa que é a prestação de atendimento médico e médico hospitalar. Quando a gente faz esse tipo de movimento, a gente pode ir para qualquer outra atividade. Claro que não é a nossa intenção fazer outra atividade que não seja relacionada, pelo menos de maneira indireta, com a jornada do nosso beneficiário, com as questões relativas ao próprio plano de saúde. A gente, por óbvio, não pode comercializar plano de saúde na S.A., até por uma questão de parceria com a própria Unimed. Não tem nenhum sentido eu montar uma empresa para fazer concorrência comigo mesmo, mas, em compensação, farmácias comerciais, corretora, laboratório, isso tudo a gente pode desenvolver e até buscar parceiros para a gente fazer esse negócio ganhar uma escala maior e alavancar o negócio. O momento da saúde suplementar é bastante delicado, os custos cada vez mais altos, muita dificuldade de repassar isso para o beneficiário, porque realmente os planos são caros, a gente sabe que são caros, mas a medicina cada vez com muita incorporação de novas tecnologias, muitas coisas novas chegando, muitas drogas novas, quimioterápicos caríssimos, então, isso tudo faz com que a gente tenha muita dificuldade de operar e se a gente não buscar receitas extraordinárias, a gente tem problemas com relação ao equilíbrio econômico financeiro do negócio.
Estou presidente da Unimed, mas eu sou médico. É a profissão que escolhi e vou seguir o resto da minha.
ANDRÉ LEITE
Qual o impacto para quem tem plano de saúde da Unimed? Vai ter alguma mudança, alguma vantagem para o usuário?
A primeira grande vantagem é que ao poder captar recursos extraordinários, esses recursos são pagos aos acionistas. Quem são os acionistas da S.A.? É a própria Unimed, porque ela é subsidiária integral, ela que desenhou todas as cotas, então, essas receitas extraordinárias acabam vindo para dentro do negócio e te permitem fazer investimentos: investir mais em infraestrutura, em tecnologia, em soluções mais completas para acompanhamento de toda a jornada dos nossos beneficiários. Uma vez que começa a ter um maior equilíbrio, permite inclusive que a gente possa até pensar, por óbvio, poder praticar um tíquete médio menor, poder trazer mais acessibilidade da população para o plano de saúde. Acho que isso é um grande benefício. O outro benefício, indireto é o nosso beneficiário poder se utilizar de produtos e serviços que têm a marca Unimed, porque ele sabe que a qualidade é o diferencial da Unimed. Você poder fazer, daqui a pouco, um seguro com a marca Unimed, pode fazer hoje farmácia, farmácia comercial, porque nós temos quatro farmácias comerciais, mas que dentro de uma SA isso deve ganhar uma escalabilidade muito maior. Esse tipo de operação vai beneficiar diretamente nosso consumidor.
Sobre investimentos em tecnologias, uma das novidades é a robótica para procedimentos cirúrgicos. Já está funcionando?
Já assinamos o contrato e a previsão de chegada é em 120 dias. Acredito que até o final do ano chegue na cidade. Mesmo que esse procedimento não esteja no rol da ANS, ou seja, ele não tem cobertura obrigatória pelo plano, é inexorável que a gente tenha que oferecer essa tecnologia, porque o avanço tecnológico e a qualidade são características da Unimed. A gente não tem como fazer diferente. A gente está sempre na vanguarda. O nosso público espera isso e nós, como médicos, também queremos isso, porque a Unimed é uma cooperativa médica. Então, a gente tem tanto a responsabilidade de entregar um produto diferenciado para o nosso cliente quanto a responsabilidade social. Um dos princípios do cooperativismo é o compromisso com a comunidade. Agora mesmo, a gente teve as enchentes, em seis horas nós montamos um hospital em Santa Tereza, leitos de UTI num hospital de campanha, com leitos de UTI, respirador, bloco cirúrgico para pequenos procedimentos. Fomos lá, levamos uma equipe, atendemos à toda a população, não só beneficiários Unimed. E a responsabilidade social, fomos para lá com uma equipe de dois médicos full time, durante uma semana. Agora a coisa normalizou, desfizemos, mas é um compromisso que a gente tem com a sociedade.
Que tipo de procedimento esse robô faz?
Cirurgias de uma maneira geral. Hoje em dia, as mais consagradas são cirurgias urológicas, ginecológicas, gerais, torácicas, qualquer procedimento cirúrgico que você faz por videolaparoscopia, você pode fazer através da robótica. A diferença é maior precisão. O robô corrige alguns movimentos. Um tremor mais fino ele acaba estabilizando e a outra grande vantagem que ele permite é trabalhar em “buracos mais apertados”, em locais de difícil acesso, porque enquanto na cirurgia por vídeo você tem que fazer o movimento das pinças inteiras, o robô só faz o movimento com a pontinha, então consegue entrar lá e faz todos os movimentos com a ponta da pinça. Ele consegue ter acesso a locais que a amplitude da cirurgia por vídeo não conseguiria. Além disso, você tem uma magnificação da imagem, você consegue dar zoom, como se tivesse uma visualização em 3D. Você consegue ter uma visão extremamente privilegiada, isso dá uma segurança e uma precisão bastante grandes. É tecnologia fantástica, ele tem um leitor de íris que se você desviar o olhar, o robô para de operar. Muito provavelmente em pouco tempo estará sendo incorporada no rol de procedimentos e vai estar provavelmente disponível para todos. O que a gente precisa é estar na frente sempre porque é uma característica nossa, até por uma questão de mercado.
De quanto foi o investimento?
O robô, em si, é um investimento que gira na faixa de R$ 9 milhões, R$ 10 milhões. Mas tem toda uma capacitação até a instalação e tem todos os outros investimentos. Existem investimentos também em máquinas especializadas para fazer a desinfecção e a lavagem, uma lavadora ultrassônica. O investimento todo fica em R$ 15 milhões, R$ 17 milhões mais ou menos.
E quando inaugura o ambulatório de onco-hematologia?
Deve inaugurar na virada do mês. A gente ainda está fazendo alguns ajustes no software oncológico, mas está inaugurando nos próximos 15, 20 dias. Esse ambulatório traz algumas coisas muito legais. Primeiro, é solidificar a parceria que a gente tem com o nosso cooperado oncologista. A gente estava disperso em alguns serviços na cidade e trazendo para dentro de casa a gente pode padronizar o atendimento e essa padronização é sempre salutar, porque é reconhecido o alto padrão de qualidade da Unimed. Essa é uma característica, até por isso a gente tem um tíquete mais alto no mercado, porque a gente agrega valor na ponta dos nossos produtos e serviços e entregas à comunidade. Nesse sentido, a gente traz a questão de uma equipe multidisciplinar e quando a gente fala multidisciplinar não é na teoria, é na prática. É você ter toda a jornada do paciente oncológico monitorada, desde a parte ambulatorial à parte hospitalar. Você passa por um acompanhamento de todos os profissionais, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo, que é muito importante no paciente oncológico, e também o grupo de oncologistas médicos, enfermeiros treinados, profissionais extremamente capacitados em procedimentos que são muito caros aos pacientes oncológicos, como punção venosa. São pacientes que até pelo repetir dos tratamentos, às vezes, têm mais dificuldade, então usamos tecnologias mais avançadas para isso. E também a gente agrega uma equipe especializada em cuidados paliativos, porque também é muito importante. Outra grande vantagem que a gente tem é a questão de estarmos fazendo um contrato de parceria para alavancar a pesquisa clínica dentro da Unimed. A indústria de oncologia lança drogas novas, principalmente no Exterior. A indústria sempre quer testar essas drogas contra o melhor tratamento disponível, até porque seria antiético fazer de outra forma. Onde estão esses pacientes com o melhor tratamento disponível? Estão dentro das operadoras de plano saúde, porque infelizmente o SUS tem um delay para chegada desses melhores tratamentos. Então, há interesse da indústria. E qual é o nosso interesse? Pacientes que obviamente estariam dentro de uma condição clínica de uma doença grave e que esgotaram o seu tratamento podem eventualmente entrar dentro de um protocolo de pesquisa e usar ainda mais uma tentativa de resgate da sua condição clínica. Isso é mais um diferencial que os pacientes da Unimed têm. Além disso, tem algumas outras coisas, como a questão de acolhimento de um serviço de oncologia, a questão da criopreservação capilar, que é aquela touca para congelar o cabelo durante a quimioterapia. Também a questão de você ter a vantagem de ter um ambulatório dentro do hospital. Você tem uma entrada em separado, o paciente sobe direto para o ambulatório como se estivesse no hospital, mas na eventualidade, embora seja muito raro que possa haver alguma complicação durante o tratamento, a pessoa já está dentro da unidade hospitalar. Já tem um atendimento na hora, isso tudo otimiza e faz com que tenha mais tranquilidade para os pacientes que estão fazendo o seu tratamento.
Hoje o senhor é um gestor, mas continua atuando como médico? Como concilia?
Infelizmente, cada vez menos como médico. A gente acaba se penitenciando, porque muitas vezes a gente não consegue dar aquela atenção que a gente gostaria. Mas eu sou cirurgião de pulmão e sempre quando posso, opero. Para a gente que ama o que faz, é muito prazeroso estar dentro de um bloco cirúrgico fazendo uma cirurgia. Óbvio que aquela cadeira (de presidente) nos traz uma responsabilidade grande até porque a gente tem 1.236 sócios na empresa e agora com o advento da holding, acabei sendo eleito para também capitanear esse projeto, acaba nos tomando bastante tempo, mas, assim, continuo médico. Costumo dizer que estou presidente da Unimed, mas sou médico. É a profissão que escolhi, é a profissão que eu vou seguir o resto da minha vida, é a medicina o que eu gosto de fazer. A área de gestão também é apaixonante, muito mais pelo desafio. Sou coordenador de MBA em gestão e tecnologia de saúde do sistema para todo o Brasil, gosto muito dessa coisa de dar aula para executivos, também é uma coisa importante, mas a medicina ainda é a minha maior paixão.
Sou de Rio Grande, mas eu já ganhei o gringo card, já estou em Caxias há mais de 30 anos
ANDRÉ LEITE
O senhor é de uma família de jornalistas, o seu pai era jornalista. Como acabou escolhendo a medicina?
Sempre quis fazer medicina, dizia quando pequeno que queria descobrir a cura do câncer, até hoje não descobri (risos). É uma profissão muito apaixonante. Passamos por um período bastante difícil na covid e que fez a gente repensar muitas coisas, mas é uma profissão muito apaixonante. Poder lidar com a vida das pessoas é muito legal. A relação de confiança que se estabelece, não conheço outra igual a essa. Quando você tem aquela química do olhar e da confiança do paciente no médico, isso não tem preço, é uma relação para a vida inteira, é muito legal, eu adoro.
O senhor não é de Caxias?
Sou de Rio Grande, mas eu já ganhei o gringo card, já estou aqui há mais de 30 anos. Tenho dois filhos caxienses, já me deram gringo card. Vim por oportunidade de trabalho. Terminei minha formação, fiz o meu mestrado, doutorado, pós-doutorado e, aí, oportunidade de trabalho. Acabei aqui na terra abençoada. A cegonha errou o lugar, né? Eu gosto de vinho, gosto de comida italiana. Lá na minha região é peixe e eu gosto de galeto.