Mesclando espanto e fascinação, um amigo me diz ter recebido o produto encomendado pela Amazon em apenas dois dias. Sem pagar sequer o frete. Essa espécie de comoção contemporânea pela rapidez encontra seu ápice nos que babam de alegria diante do aumento da potência de sua internet. Têm a falsa ilusão de ganhar tempo. A propósito: conseguirão gastá-lo sabiamente? Será arquitetando novas formas de entronizar o efêmero como o novo deus a ser reverenciado? Corro o risco de parecer meio ranzinza, mas não entendo como passamos a cultuar tanto a celeridade, encharcando-a de qualidades que sou incapaz de descobrir. Essa idolatria é responsável pela privação do gosto das coisas, como se fosse primordial existirem à velocidade da luz para se tornarem legítimas. Vivo a privilegiada condição de morar afastado do burburinho da cidade grande. Nutro a percepção de ganho ou de perda relacionados à capacidade de usufruir com consciência e prazer o que me cerca, ao invés de empilhar fatos e sensações fugidias. Atribuir serventia considerando unicamente a prontidão é um equívoco. O sentimento de evasão é confirmado pela realidade, e acelerá-lo patologicamente, como estamos fazendo de uns tempos para cá, é atitude francamente suicida.
Mais devagar
Muitas vezes é forçoso parar para continuar andando
“Tudo ao mesmo tempo agora” jamais será meu lema. Ao contrário: uma coisa de cada vez, sem pressa alguma
Gilmar Marcílio
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