Está em Platão a ideia de que os homens, mesmo em pleno uso de sua razão, sucumbem à toda espécie de vícios. Pouco importa o fato de saberem, racionalmente, que isso lhes roubará a liberdade, tornando-os reféns de pulsões incapazes de controlar. Há algo ultrapassando o humano em sua capacidade de tomar decisões de autopreservação. É como se estivessem possuídos e, a despeito do propósito de se salvaguardarem, fossem incapazes de retomar o comando. Quanto a mim, pautei grande parte dos meus dias no sentido de me proteger quando alguma “tentação” se aproximava. É um exercício de vontade, ficando além do desejo lógico, intelectual. Até agora não sucumbi ao álcool, ao cigarro, ao jogo, às drogas, e nem em demasia às redes sociais. Mais do que só demonizá-los, pois se fazem ostensivamente presentes em nossa convivência, vejo a necessidade de olhá-los de frente e resistir. Estamos longe de um mundo asséptico, onde a pureza e a perfeição têm um papel central. Pelo contrário, somos seduzidos constantemente e nossa grandeza se revela justamente na capacidade de transitar entre eles, sem sucumbir, sabedores de seus danos.
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Conheci pessoas brilhantes, mentes privilegiadas, mas incapazes de se manter longe dessa esfera de contaminação. E instalado algum tido de “servidão”, o trabalho de “limpeza” costuma demandar meses. E a chance de reincidir é enorme. Aliás, o correto é classificá-los na categoria de doentes. Durante um ano acompanhei esporadicamente um amigo em reuniões num local dedicado ao tratamento de dependências químicas. Imensa tristeza de descobrir: apesar da desesperadora disposição de saírem desse processo autodestrutivo, a maioria o retomava. Via um esforço enorme sendo feito, mas concomitantemente destruído pelo ímpeto de reencontrar aqueles poucos e intensos minutos ou horas de prazer. O problema é abrir a porta e se entregar. A partir daí, a labuta de reorganização mental e emocional será exaustiva. Em muitos casos, para a vida inteira. Quando penso nisto, percebo-me afortunado por manter um saudável controle sobre as minhas ações. Talvez o mérito seja o de me policiar ostensivamente, buscando aprender com as pessoas que vão ao fundo do poço, sem a certeza que retornarão à superfície novamente.
Considero essa tarefa extremamente importante. Ela demanda a ampliação da consciência sobre os malefícios embutidos em cada dose ou tragada, na satisfação quando ganhamos uma partida. Se você for bem centrado, pode até atrever-se a experimentar, mas, cuidado: a linha que separa a curiosidade da sujeição é quase imperceptível. E uma vez iniciada a jornada de destruição... Portanto, professe sua crença na liberdade de escolha, mas inclua a premência de dizer não. Muito cedo já pode ser tarde. Opte pelo prazer maior: ser dono de si mesmo.
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