Está em Platão a ideia de que os homens, mesmo em pleno uso de sua razão, sucumbem à toda espécie de vícios. Pouco importa o fato de saberem, racionalmente, que isso lhes roubará a liberdade, tornando-os reféns de pulsões incapazes de controlar. Há algo ultrapassando o humano em sua capacidade de tomar decisões de autopreservação. É como se estivessem possuídos e, a despeito do propósito de se salvaguardarem, fossem incapazes de retomar o comando. Quanto a mim, pautei grande parte dos meus dias no sentido de me proteger quando alguma “tentação” se aproximava. É um exercício de vontade, ficando além do desejo lógico, intelectual. Até agora não sucumbi ao álcool, ao cigarro, ao jogo, às drogas, e nem em demasia às redes sociais. Mais do que só demonizá-los, pois se fazem ostensivamente presentes em nossa convivência, vejo a necessidade de olhá-los de frente e resistir. Estamos longe de um mundo asséptico, onde a pureza e a perfeição têm um papel central. Pelo contrário, somos seduzidos constantemente e nossa grandeza se revela justamente na capacidade de transitar entre eles, sem sucumbir, sabedores de seus danos.
Opinião
Gilmar Marcílio: vícios
Há algo ultrapassando o humano em sua capacidade de tomar decisões de autopreservação
Gilmar Marcílio
Enviar email