Os sinais já estavam no ar. Foi preciso ter sob nossos olhos o resultado de uma extensa pesquisa realizada em diversos países para obter a confirmação: os jovens estão cada vez menos interessados em sexo. Mas como, dirá você, se vivemos numa época de erotização absoluta do corpo? Nunca nos despimos tanto e consumimos pornografia a granel, escondido ou às claras. Pois é. Isso só vem reforçar a conclusão dos especialistas na área: a gurizada anda exageradamente empenhada em se exibir, buscando formas perfeitas para serem mostradas virtualmente. Inclusive, e é bem preocupante a constatação, sessenta por cento dos entrevistados respondeu preferir as redes sociais a manter um relacionamento físico com alguém. É alarmante e denota um evidente descaso neste quesito. E um paradoxo: nunca a perfeição foi tão exaltada, gerando grandes frustrações em quem está longe de alcançar um ideal destinado a um número ínfimo de pessoas. Só que agora estão deveras empenhadas em permanecer unicamente na vitrine, transformando o desejo em algo passivo. Não sentem mais a necessidade de ir a campo. Incitar a libido alheia passou a representar mera provocação. Antes, era uma batalha com o intuito de atiçar os hormônios, devidamente sucedida pela prática.
Deu-se ao fenômeno o curioso nome de “apagão sexual”. Nada que mereça enquadrá-lo na classificação de patologia. É um sintoma desses dias totalmente mergulhados nos smartphones. De minha parte, consideraria o fato digno de profundo estudo. Pense comigo: é estranho, para dizer pouco, nos contentarmos com uma não ação. E, se levarmos em conta que poucas coisas são tão instigantes quanto o embate sensual entre duas pessoas, contentar-se com um simulacro é, no mínimo, empobrecer essa experiência tão fascinante. Está se criando um universo privado, onde se abdica da presença. Agindo dessa maneira, fica tudo aparentemente fácil. Mas empobrece o processo de crescimento do ser humano. O desafio não é submeter-se à vontade do outro, e sim entrar no ringue e perceber a importância do confronto. Encerrados em seu quarto, distantes do contato direto, dificilmente conseguirão vergar seu egoísmo, fazendo-os agir e parecer eternos adolescentes. Muitas vezes até depois de casados. Garotos e garotas disseram optar por ouvir música, ver um bom filme, a passar por uma situação traumática de rejeição. O mercado de ofertas sexuais multiplicou-se quase ao infinito, sem, no entanto, encontrar muitos dispostos a “comprar” o que se apresenta em exposição.
Enfim, tudo é cíclico e talvez se olhará para isso daqui a vinte anos com uma mescla de curiosidade e espanto. Mas penso: com a repressão em baixos níveis, deveríamos aproveitar com inteligência o que foi tão duramente conquistado. Uma tela de celular é fria. O calor da pele é sempre melhor.