O excesso de sensibilidade com a linguagem parece estar permeando todas as relações. A cartilha do politicamente correto é martelada na nossa cabeça com tanta insistência que passamos a duvidar do que sempre nos pareceu natural. Sou francamente favorável a buscar expressões que minimizam o preconceito e devolvam a dignidade a quem sofre por ser diferente da maioria. Nem melhor, nem pior: é simplesmente uma questão numérica. Um aspecto positivo de vivermos nessa época é que diminuíram as sanções destinadas a quem resolve se comportar segundo suas inclinações. Hoje podemos evidenciar qualquer sentimento ou preferência sexual, mas não é raro vacilarmos na escolha das palavras. Alguém pode se ofender. A contenção exagerada, o medo de infringir os códigos vigentes está nos transformando numa sociedade asséptica, sonegando a possibilidade de tudo ser e tudo dizer. Nem todos são guiados pelo senso comum. Somos seres que também se fascinam pelo que a moral condena. Os prejulgamentos podem até ser engavetados, mas dificilmente os eliminamos. Mesmo sabendo que não têm sustentação alguma. São filhos de seu tempo e, felizmente, tendem a perder força na medida em que os costumes se modificam.
Opinião
Gilmar Marcílio: palavras aprisionadas
A contenção exagerada da linguagem está nos transformando numa sociedade asséptica
Gilmar Marcílio
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