Parece que o bom senso há tempos foi abandonado pela sociedade. Ninguém mais questiona ou se revolta quando coisas absolutamente sem sentido pautam organizações importantes que direta ou indiretamente interferem no nosso dia-a-dia.
Semana passada veio a público uma questão da prova de seleção para o cadastro reserva de estagiário junto ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – TJRS. Poderiam participar desta seleção estudantes de nível médio ou técnico, de ensino superior ou pós-graduação. A responsabilidade da elaboração da prova era do CIEE-RS – Centro de Integração Empresa-Escola. Para quem não sabe, o CIEE-RS é uma associação civil, sem fins lucrativos, que promove a assistência social beneficente, educacional e cultural dos jovens estabelecendo uma ponte entre estudantes e o mercado de trabalho, seja no setor público ou no privado.
Por causa das instituições envolvidas, esperava-se que a prova de seleção tivesse alguns critérios para realmente identificar entre os candidatos os mais aptos para atuar com a competência que se espera dentro de um tribunal. Que critérios seriam estes? Que habilidades e qualificações são necessárias para atuar nas áreas de atendimento ao público, manuseio de documentos e arquivos ou ainda assistência a juízes, promotores, defensores públicos e outros servidores da justiça? Prega o senso comum que sejam necessárias noções aprofundadas de ética e de legislação, redação e escrita impecáveis, capacidade de interpretação de texto, conhecimentos básicos de história e geografia do Estado e do município onde irá atuar, boa expressão e comunicação oral, além de informações sobre temas da atualidade, sobretudo política e economia.
Contudo, uma das questões da prova — saída do saco de gatos que virou a seção “conhecimentos gerais” — perguntava o seguinte: “Qual foi a grande estrela de um show realizado nas areias de Copacabana no mês de maio de 2024?”. As alternativas eram Madonna, Taylor Swift, Iron Maiden, Rihanna, Stevie Wonder. Eu fico imaginando um candidato preparado, que fosse realmente qualificado ao cargo de estagiário de um Tribunal de Justiça, lendo esta pergunta durante a prova. Deve ter pensado que estava respondendo a um processo seletivo para um daqueles vulgares e medíocres sites de fofocas que existem aos montes por aí.
Este é justamente o tipo de pergunta que mostra a triste prática de nivelar por baixo: em vez de subir a régua e usar critérios que realmente motivem os jovens a buscar conhecimento como escada para o sucesso profissional, as instituições preferem fazer um aceno à massa de desqualificados e imbecilizados por uma cultura de engajamento via espetáculo e entretenimento. É inadmissível. É uma derrota da sociedade se conformar com a precariedade da cultura geral dos jovens brasileiros e o descaso com uma educação de qualidade.
Se vale pontos saber que Madonna fez um show em Copacabana, por que largar a internet e ler um livro, não é? Fica aqui meu apelo para que haja mais seriedade e que se suba a régua: chega de nivelar por baixo.