Mesmo quem não acompanha tênis – ou qualquer esporte – não pode ficar indiferente a alguém como o tenista espanhol Rafael Nadal. Domingo passado, tendo perdido os dois primeiros de cinco sets para o jovem russo Daniil Medvedev, provavelmente o próximo número um do mundo, ganhou a final do torneio Australian Open e alcançou a marca de 21 Grand Slams, o maior campeão de todos os tempos. Foi uma virada espetacular para quem, em setembro de 2021, estava saindo de uma sala de cirurgia de muletas. Ao ser perguntado de onde tirou forças para vencer, essa foi a resposta de Nadal:
“¿La chave del éxito? Pasión por el juego, actitud positiva, espíritu de trabajo y la gente correcta a mi alrededor.”
Me chamou a atenção a parte em que ele se refere às “pessoas corretas ao meu redor”, o que nos leva a uma multitude de interpretações e de reflexões. Seja num esporte de alto rendimento, seja na carreira ou na vida pessoal, nada é mais importante do que ter perto da gente as pessoas certas no momento certo. Dizem que nossas ações – consequentemente nossas vidas – recebem o impacto imediato da soma das seis pessoas com quem mais convivemos e conversamos no nosso dia a dia. Eu diria o mesmo sobre os livros que lemos, os programas a que assistimos, os lugares que frequentamos: mesmo que tenhamos, já adultos, nossa personalidade praticamente formada, é tolice acharmos que ninguém muda. Um exemplo positivo pode nos levar a atitudes positivas que, somadas, acabam construindo um futuro melhor.
Certo dia, li um ditado em inglês que dizia mais ou menos o seguinte: “Uma pessoa inteligente num relacionamento com um tolo resultará em dois tolos. Uma pessoa motivada num relacionamento com um pessoa preguiçosa resultará em dois preguiçosos.” Infelizmente, esta é a mais pura verdade: gente tóxica acaba arrastando todo mundo ao seu redor para o fundo do poço, talvez não num único dia, mas com o tempo e com a convivência. Pessoas com sérias falhas de caráter como imprudência e vícios em álcool e drogas, por exemplo, colocam em risco qualquer um que esteja próximo. E essas mesmas pessoas tendem a se cercar de seus semelhantes e acabam afundando ainda mais num espiral de declínio. Mudam, mas mudam para pior justamente por não ter por perto alguém que aponte um caminho mais digno.
O mesmo acontece numa empresa – ou num governo – quando os líderes se cercam de seis puxa-sacos em vez de compor uma equipe mista, com aliados independentes e qualificados que não hesitem nem por um segundo em dizer que o chefe está errado. O pai de Nadal, um senhor afetuoso, e o tio de Nadal, disciplinador e técnico, chamaram para perto do tenista desde sua adolescência pessoas qualificadas e inspiradoras, de diferentes culturas, temperamentos e escolas. Souberam trabalhar em equipe e criaram um campeão cuja mentalidade e coração são hoje exemplo para o mundo inteiro. Então, quem são as seis pessoas com quem você mais convive?