A safra da uva deste ano, em geral, já está um pouco mais atrasada em função de condições climáticas ainda do ano passado, como o frio prolongado. E o resgate de mais de 200 trabalhadores em Bento Gonçalves, em situação similar à escravidão, também impacta o ritmo da colheita 2023 de acordo com a Secretaria da Agricultura do município e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais que representa cidades do entorno.
De acordo com o secretário Volnei Christófoli, são em torno de 10 mil propriedades com cultivo de uva no município, mas não há como precisar quantas pessoas trabalham na safra. Os relatos que o titular da pasta acompanha de produtores de uva é de que a colheita reduziu sua velocidade na última semana, não só por dificuldades de contratar trabalhadores, mas também pela insegurança por parte de quem contrata. Por outro lado, Christófoli reconhece que é um setor que depende da mão de obra informal. No caso, os produtores recorrem a familiares, conhecidos, aposentados e autônomos para atuar na colheita, sem contrato.
— Não somos a favor do trabalho análogo a escravidão, os produtores nunca dependeram desse pessoal (trabalhadores em situação análoga a escravidão) para colher a uva. Se os produtores soubessem dessa situação, não contratariam essas pessoas. Eles não vão se prejudicar e nem prejudicar essas pessoas. A colheita sempre foi feita do jeito certo, sem esse tipo de trabalho — defende Christófoli.
Ele complementa:
– Muitos agricultores foram pegos de surpresa, estão iniciando a safra de algumas variedades agora e se sentem amarrados, não sabem que caminho buscar. Estamos orientando que busquem advogados e sindicatos para saber como proceder – aponta.
Insegurança atrasa mais
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bento, Cedenir Postal, estima que 70% da safra já esteja colhida. A entidade representa em torno de 4 mil agricultores familiares e a estimativa de Postal é de que, em média, de três a quatro pessoas costumem trabalhar na colheita. Quando questionado sobre o impacto da operação para a vindima deste ano, o presidente do sindicato disse que a maior dificuldade é em relação a como proceder nas contratações.
– Apesar das campanhas, de nossas orientações, é uma dificuldade muito grande para contratação por conta da burocracia – destaca o representante dos agricultores familiares.
O que Postal destaca é de que deve haver uma mobilização por parte do setor e do governo para uma legislação que dê segurança para o contrato de safristas em uma modalidade de diarista que é o mais comum de ocorrer pelo perfil de pequena propriedade regional.
Interrupção de recebimento de uva na última semana
Elson Schneider, presidente do Sindicato Rural da Serra Gaúcha, que representa seis municípios e mais de 450 famílias associadas da região de Bento Gonçalves e entorno, coloca também o atraso da colheita por conta da suspensão do recebimento da uva.
– Estimamos o atraso de cinco a 10 dias da safra com a própria suspensão de vinícolas no recebimento da uva em função da situação da operação. Isso causa um impacto grande, mas que numericamente ainda não conseguimos quantificar. Mais adiante é que vamos verificar as consequências – aponta o presidente da entidade.
Schneider também acrescenta que, no caso da uva, trata-se de uma fruta mais perecível que outras e, por isso, o atraso pode representar perdas consideráveis.
A coluna também procurou as vinícolas citadas na operação para saber como está o andamento da safra após o caso, mas elas ainda não se manifestaram especificamente sobre o tema.