O arquiteto Márcio Carvalho, 42 anos, fundador da Smart Arquitetura incorporadora imobiliária gaúcha, é um dos três nomes que protagonizam, junto com a rede hoteleira alemã Kempinski, um dos maiores projetos de revitalização do Estado. E ele está sendo empreendido na Serra Gaúcha. Trata-se de um investimento de R$ 500 milhões que fará o icônico Hotel Laje de Pedra, de Canela, retomar o protagonismo que teve, principalmente, na década de 1970.
Márcio é sócio da LDP Canela Empreendimentos S.A, fundada com dois veteranos de investimentos das indústrias imobiliária e hoteleira, José Paim de Andrade Jr. e José Ernesto Marino Neto. A seguir, o arquiteto conta como é estar diante de um projeto que pode mudar a história do turismo da Serra, do Estado e do país:
Muita gente tem lembrança do Laje de Pedra. Qual a tua história com este histórico hotel?
O curioso é que a minha experiência de Serra e frio não tem a ver com Gramado e Canela inicialmente. Tem mais relação com Caxias. Sempre que vejo paisagem de frio, ela me leva a Caxias. Inclusive quando fui conhecer o hotel de St. Moritz, da rede Kempinski na Suíça, eu brincava que parecia quando estava ficando frio em Caxias. Sou de Porto Alegre, mas tenho tios em Caxias, o Décio e Odete Priebe. É onde eu passava as férias de inverno com meus irmãos. Por isso, em um segundo momento, esse ar europeu da arquitetura da região das Hortênsias me parecia mais distante, eu não tinha essa conexão.
Eu até já conhecia o Laje de Pedra de pequeno, mas fui me conectar com ele, mesmo, quando me hospedei por quatro dias aos 18 anos. Na época, eu já cursava Arquitetura. O que me chamou a atenção no hotel foi aquela arquitetura dos anos 70, modernista, assinada pelo Edgar Graeff. Vendo aquilo, e na época da faculdade, percebi que também queria propor uma visão de futuro para aquela região. A arquitetura me cativou muito, mas também toda aquela experiência no entorno, a natureza. Foi com o Laje de Pedra que percebi que ali nas Hortênsias não havia só respeito ao passado com homenagem a paisagem alpina como faziam muitos empreendimentos, mas que havia ali também essa proposta de visão de futuro. Visitei muitas outras vezes, minha família tem imóvel no condomínio Laje de Pedra, e sempre ficou esse carinho que me conectou com o local. E nossa missão como arquiteto é propor algo para o futuro, que sirva de legado.
Como houve a união com teus sócios a e rede Kempinski para propor o projeto de revitalização do hotel em Canela?
Quando o José Paim (um dos sócios do projeto, cuja família é natural de Vacaria) fez o convite para me associar ao Laje de Pedra, para assumir um papel de protagonismo, senti aquele convite do passado, quando estive no hotel, voltando a ecoar. Foi mágico esse reencontro. Agora não mais como estudante e, sim, como um dos proprietários que tem a missão de projetar os próximos 50 anos. O Paim comenta que, quando conheceu pela primeira vez o Laje, seu sonho era se hospedar por uma semana. E agora temos essa missão de revitalizá-lo. Eu tenho o Paim como grande mentor e grande amigo, que conheci há 15 anos em São Paulo. Desde então, trabalhamos juntos em vários projetos. Ele é inspirador, um dos grandes visionários do mercado imobiliário. Ele é filho de gaúchos de Vacaria, mas costuma dizer que nasceu em São Paulo por acaso, porque o coração e a postura são ligados aos nossos valores. E o José Ernesto é um dos grandes gestores hoteleiros do Brasil, foi ele que trouxe a conexão com a Kempinski e que tem nos revelado todo esse universo da hotelaria.
Qual deverá ser a principal marca do Laje de Pedra do futuro?
Existe uma história incrível desses últimos 50 anos, construída pela família Druck e Correia que nos precederam. Sentimos que nossa oportunidade, junto com a sociedade gaúcha, de construir esse futuro. E não teria melhor parceiro que a Kempinski, porque a bandeira tem no DNA a valorização da cultura, de experiências naturais, está em locais do mundo que são reconhecidos pelo turismo de luxo. Não são experiências passivas, são locais onde as pessoas conseguem ser tocadas. Minhas visitas em hotéis da rede revelaram isso. E, de alguma forma, a Kempinski reconheceu em Canela essa posição muito estratégica para sua entrada no Sul da América. O hotel está sendo pensando com muito carinho por mim, pelo Paim e pelo José Ernesto, nesse lugar em que a cultura gaúcha e da América do Sul possam ser vivenciadas de maneira elegante, sofisticada, com natureza e serviço impecáveis, com respeito ao ambiental e cultural. Em um local que abre as portas do Rio Grande do Sul para o turista mundial de alta renda. Eu acredito que o Laje de Pedra é um farol que vai marcar a posição do Estado neste mapa mundial.
O que tem de tão mágico no Laje de Pedra, já que muitas histórias cercam essa laje natural que deu origem a este complexo construído pelos homens?
Ouvimos tantas histórias... Cada pessoa tem uma ligação, e a gente não para de escutar. Já ouvimos falar de muitas coisas que ocorreram nesta região, de encontros de bruxas, sociedades secretas, sociedades ligadas ao metafísico e ao mundo espiritual a grandes cerimônias indígenas no Vale do Quilombo. Dizem que embaixo do Laje de Pedra existe um manancial incrível de cavernas de Quartzo e Ametista que filtram energia. Tem as histórias da Lígia Posser e o poder de cura do spa do hotel. O quanto são história comprováveis ou não, não sei.
O fato é que as pessoas que pisam no Laje de Pedra comentam que se sentem bem. O mais cético pisa lá e tem alguma relação com o local. E acabamos sendo porta-vozes de histórias muito apaixonadas. A revitalização não é só um compromisso nosso, ele é um ativo cultural dos gaúchos. E o mirante do Laje de Pedra e o restaurante 1835, que abrimos recentemente, foram feitos com essa proposta de envolver as pessoas para construir conosco. É um convite para reviver e reconhecer essas histórias, experimentar o presente, também por meio da galeria e o anfiteatro que criamos e, por fim, revelar esse futuro ao apresentar o projeto.
Como se sente protagonizando esse movimento?
Sempre que se trabalha com um ativo cultural, a responsabilidade é muito grande. Isso sem contar a questão econômica, envolvendo acionistas e investidores... Do alto dos meus 42 anos, parece que vinha me preparando para esta posição a vida inteira. É um investimento de R$ 500 milhões. A primeira fase deve estar concluída em 2025. Ao fim, a revitalização vai representar uma expansão de 250 para 330 apartamentos. Uma parte das unidades será dedicada para proprietários individuais, que são as Kempinski Residences. Inicialmente, 40 unidades. Essa proposta de residência de férias dentro de hotel é algo que funciona muito bem em St. Moritz, Dubai, Turquia... E agora será implementado aqui. É uma oportunidade para visitantes de todo o mundo conferirem esse segredo escondido no nosso território, que são os Campos de Cima da Serra. Gramado e Canela estão na borda desta região de cânions, e o próprio gaúcho pouco conhece essa potência. O europeu mais sisudo se perde no encantamento dessa nossa região. E o nosso projeto vai atrair pessoas para vivenciar essas paisagens, deixando recursos para o Estado e ainda revelando para o mundo o que viram aqui. Acreditamos que teremos um outro patamar de injeção de recursos a partir do turismo de alta renda. Isso vai elevar os patamares, tornando Canela um grande destino global.
Quais são os próximos passos do projeto?
Acabamos de receber a aprovação do projeto. Todo o processo legal de licenças está finalizando. Tão logo forem cumpridos esses ritos, vamos lançar a mercado a comercialização das residências. Começaremos pelos setores com têm vistas mais privilegiadas dentro do único lugar na serra onde é possível ter uma residência debruçada sobre o Vale do Quilombo, por se tratar de uma reforma. Em uma obra nova, precisaria de afastamento de 100 metros do penhasco. Por isso, o Laje de Pedra tem essa característica única e exclusiva.
Quanto vão custar estas primeiras unidades e qual a previsão para o início de vendas?
Os valores para aquisição devem variar entre R$ 3 e R$ 10 milhões, fora o caso de unificações de propriedades, cujo interesse já foi levantado. Serão proprietários individuais. Não descartamos o modelo de multipropriedade no futuro, mas neste momento este modelo o foco está nos proprietários individuais. Acreditamos que a comercialização inicie ainda neste segundo semestre.