O público assiste (atônito ou com aplausos) ao desenrolar da greve dos caminhoneiros (que, agora, transformou-se em grito de protesto de várias categorias e desabafo da população). Enquanto isso, empresas, lideranças e profissionais calculam (ou lamentam) os prejuízos.
A nebulosidade e a incerteza quanto ao futuro do país interrompem os indícios de otimismo que sopravam na economia serrana, após mais de três anos de crise econômica.
Nesse quesito, não estão em jogo se o Brasil e o governo federal vinham oferecendo condições de desenvolvimento e de estabilidade. O mérito da superação é da iniciativa privada. E, salienta-se, a economia vive de ciclos, e o ciclo estava saindo da ladeira abaixo para voltar à margem do poço e, dali, ascender. Um movimento natural.
Porém, a onda de insegurança que hoje assola o Brasil afasta investidores. Cria um clima de colapso social que evidencia desgoverno, desautoridade e afasta, amedronta, preocupa.
Os impactos na economia serão sentidos a longo prazo. Abaixo, reflexões de lideranças.
>> REPERCUSSÃO
"Teremos muitas baixas"
Um dos setores mais impactados pela crise econômica, e que agora via sinais de “uma lenta recuperação” nos negócios, a indústria metalmecânica da Serra vive dias de preocupação. Assim define Reomar Slaviero, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), entidade que abrange 3,2 mil empresas e 50 mil funcionários na região.
– Acho que muitas pequenas empresas não vão suportar. Teremos muitas baixas – define.
Para Slaviero, a greve já comprometeu as atividades de 35% das companhias do setor.
Perdas de até 70% nos negócios
O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias, Ivanir Gasparin, calcula que, no período de nove dias de paralisação, a economia tenha tido um baque de até 70% nos negócios. Lojas estão vazias, o público não circula pela cidade, a não ser para adquirir alimentos nos supermercados.
Sem combustível e matérias-primas, grandes empresas, como Agrale, Randon e Marcopolo, precisaram suspender as atividades. O comércio está abrindo as portas, mas, como o cliente não sai de casa por falta de combustível e por receio, as vendas reduziram-se a quase zero. O momento é de apreensão, define o dirigente.
R$ 45 mil não faturados
O Hotel Intercity Caxias deixará de faturar R$ 45 mil em maio em função da greve dos caminhoneiros, fechando o mês com queda de pelo menos 7% nos negócios em relação à expectativa.
As diárias foram desmarcadas especialmente por empresários a negócios que viriam à cidade. Desistiram por insegurança de transporte e porque empresas parceiras encontram-se com as atividades paralisadas. Nos finais de semana (o último e o próximo), também houve pé atrás de turistas a passeio na Serra, que cancelaram a hospedagem. Além disso, eventos corporativos foram suspensos.
— Espero que esta semana reprimida seja recuperada depois — avalia o gerente geral Rafael Cyrillo.
O Intercity ainda tem gás para a cozinha, ao contrário de alguns outros hotéis e restaurantes.