A polêmica começou assim que foi anunciado que a 15ª edição do Mississippi Delta Blues Festival (MDBF) ia ser realizada no Centro de Caxias do Sul. O fechamento da Rua Marquês do Herval, entre a Sinimbu e a Pinheiro Machado, da terça-feira (19) até o domingo (24), inevitavelmente teria grande impacto no já conturbado trânsito da área, e a reclamação de moradores e comerciantes foi imediata. Se o transtorno e a gritaria eram previsíveis, o que então levou a prefeitura a permitir o evento no local? A resposta é uma mudança de mentalidade em relação ao uso de espaços públicos.
Mesmo prevendo as reclamações, a administração municipal decidiu bancar a autorização ao evento, com o objetivo de ampliar o hábito de uso do Centro. A ideia é que a humanização do espaço compense o transtorno, reacostumando as pessoas a circularem a pé por locais que, na atualidade, são vistos como ponto de passagem para veículos. A médio prazo, os proprietários e comerciantes da vizinhança devem se beneficiar com a revitalização da área.
Essa visão é defendida pelo diretor de Fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), Rodrigo Lazzarotto. Questionado sobre os impactos da decisão, ele diz que sempre teve noção de que haveria reações negativas, mas desde o início defendeu a liberação. A reflexão sobre o uso de espaços públicos e o incentivo à ocupação do Centro é a base do pensamento que embasou a autorização para o MDBF.
— A gente pesou a questão do uso do Centro para atividades culturais, educacionais e com feiras, para valorizar esse espaço. Medimos a repercussão e pensamos sobre o que é válido agora: ouvir um pouco de crítica das pessoas que moram lá para um evento específico, ou simplesmente esquecer que essa área pode ser utilizada para esse tipo de evento, privilegiando a circulação de pessoas? — questiona Lazzarotto.
Contornar os transtornos com o trânsito e barulho, habituando a população a ver os efeitos positivos da circulação a pé, é uma das ideias de Lazarotto, que vê a realização do MDBF como um teste para futuras ações. Ele cita eventos já existentes, como o Grande Espetáculo de Natal, realizado pelo Magnabosco, a Feira do Livro e o Desfile Cênico-Musical da Festa da Uva como experiências bem-sucedidas, que mostram que há demanda para este tipo de evento no Centro, inclusive com potencial para incentivar o turismo.
O bloqueio da Marquês do Herval não é visto como um problema pela Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM). De acordo com o secretário Alfonso Willenbring Júnior, essa é uma via para a qual existem alternativas, e o acesso local de moradores e comerciantes está assegurado. Ele projeta um aumento de fluxo de carros em vias como a Alfredo Chaves e a Visconde de Pelotas, mas acredita que são questões pontuais, que não devem impedir o poder público de apoiar eventos:
— Nós, como gestores, temos que achar as alternativas para a fluência do trânsito. E o evento em si, só pelo número de pessoas que ali estão, justifica essa ação. Vejo com bons olhos a realização de eventos como esse, e não só no Centro.