É fim de domingo e me pego fazendo perguntas sem sentido, mas que rendem uma crônica. Afinal, para onde vão as palavras que nunca foram ditas? Aquelas que guardamos para dizer no momento especial que nunca aconteceu. Para onde vão as cartas escritas e perdidas nos anos, sem jamais serem lidas pelo destinatário? Para onde vão os sorrisos que negamos ou nos foram negados, aqueles sorrisos de amor, de paz, de tesão? Para onde foram as conversas que ficaram em suspenso porque nunca conseguimos encontrar um momento adequado para sentar e trocar uma ideia? Aquelas conversas tão importantes para se perguntar o que houve, porque você foi embora e dizer o porquê de ter partido. Para onde vai o desejo preso entre os braços impedidos de abraçar uma vez mais? Para onde vai a vontade de estar perto, de chegar mais perto, de dizer quero estar perto, mas que o outro se mantém distante? Para onde vão os amores contidos por medo de rejeição? Para onde vão as meias das gavetas que desaparecem logo que foram compradas? As borrachinhas de cabelo, os clipes de papel, as canetas, os guarda-chuvas perdidos, os livros esquecidos? Para onde vão as lágrimas engolidas a seco em meio a uma conversa difícil e tão necessária? Para onde foi o adeus negado, o olhar desviado? Onde vivem os que partiram, os que decidiram ir, os que desapareceram?
Para onde vão os amores não correspondidos, os que morrem por falta de atenção, os que os anos tentaram fazer esquecer? Para onde foi nossa juventude, nossos rostos tão claros e sem rugas, nosso olhar tão inaugural sobre as coisas? Para onde foi nossa vontade de querer muito, de sonhar um futuro, de desejar beijar, abraçar, viver? Para onde foi nossa vontade de dançar sem medo de julgamento?
Para onde vão os momentos lindos que vivemos e que depois se apagam de nossa memória? Onde vão dar as ruas que sempre cruzamos, mas nunca fomos até o fim? Para onde vão os beijos não mais dados? Para onde vão as amizades que o tempo atropelou? As pessoas queridas que não respondem e nem atendem o celular? Para onde se vai quando se morre?
Para onde foi teu pensamento, teu sentimento, tua dor? Para onde vai a raiva que sentimos, o medo, a indignação? Onde vão parar as notícias de jornal no dia seguinte? Para onde vão as perguntas sem respostas? Para onde vão as naves espaciais, os pássaros que migram, as nuvens que correm de céu em céu? Para onde vão os animais abandonados, as folhas de outono, os carros apressados em horário de pico? Para onde você foi?
Para onde foram os minutos de agora? Para onde foram as roupas do armário agora vazio, os discos de vinil, as caixas de CDs, as samambaias? O que foi que se foi de nós? Para onde fomos depois de ir? Onde ficamos quando o outro se foi?
Para onde foi? Não sou Cecília, a poeta, que queria viver no lugar para onde as coisas iam. Quero o querer compreender e enquanto espero e pergunto, observo o jardim. Em setembro ele estará cheio de rosas loucas. Aquelas que desabrocham brancas e mudam de cor ao envelhecer.