Crescer é um processo longo e doloroso, sim. Mas também extremamente necessário e totalmente irreversível. Uma vez adulto e já não é mais possível agir como antes. Algumas pessoas parecem ter medo de crescer. Eternos Peter Pan. Habitantes da Terra do Nunca: a infância ou a juventude eterna. Irreal. Dias atrás li uma reportagem que falava sobre gerascofobia e como o medo de envelhecer tem se tornado cada vez mais presente. Vivemos num mundo obcecado pela juventude e pela beleza advinda dela. Um mundo fake, sem rugas ou cabelos brancos, em que os corpos “aparentam” ter menos idade. Aparentam, porque nosso corpo sempre mostra a idade que tem. Como se pudéssemos, de alguma forma, controlar a passagem do tempo. Como se, de alguma outra forma, aceitar que envelhecemos fosse assinar um contrato de falência. É claro que envelhecer é complicado. As juntas doem, o coração não é mais o mesmo, o músculo demora para responder ao estímulo, as costas doem com mais frequência, e por mais que tentemos dissimular os anos, os outros sempre nos dizem que eles passaram por nós e nos deixaram com marcas.
É fato, envelhecemos. E apesar de termos mil ressalvas com a idade, ela também aponta para a necessidade de aceitação. Seja aceitação do tempo, do corpo, dos cabelos que branquearam, das rugas que teimam em se instalar em nossos rostos ou do cansaço cada vez mais presente. É claro que algo também vem como ganho diante destas perdas. Aceitar-se. E queira ou não queira, aceitar dói menos. Mais pra trasmente, termo roubado de Odorico Paraguaçu (vejam como já tenho idade!), ainda no ano passado assumi um trabalho lindo numa escola de educação infantil. Num dos primeiros dias em que estava lá uma pequena de uns 4 anos veio me oferecer uma poção mágica, disse perceber que eu precisava. Eu aceitei, claro. Era uma poção para eu me sentir melhor, já que era muito velhinha e devia estar me sentir cansada. Claro que ri, mas não sem me sentir espinafrada. Não pela criança, mas pela minha autoilusão de que o tempo passaria somente para os outros. As crianças são ótimas, nos fazem ser quem somos. E nos aceitam sendo.
É como se outro sempre visse o envelhecimento antes de nós. O outro que nos diz da idade que temos. Alguns podem até ser maldosos em seus comentários. O que eles não sabem, é que se der tudo certo, também ficarão velhos. Toda vez que reparo como um amigo ou amiga envelheceram, logo penso em mim mesma. Poxa, vida. Já não somos mais os mesmos. E ainda bem. Coisa horrível viver num mundo em que todos envelheceriam menos você. Verônica, professora responsável pelo programa UCS Sênior, disse uma frase certa vez e, que carrego comigo. Também quero envelhecer com o corpo e com a mente de alguém que envelheceu. Coisa mais horrível ter o corpo envelhecido e a cabeça de alguém que parou no tempo. Ser eternamente jovem além de ser impossível, gera muito sofrimento. Envelhecer pode ser bom, mas lutar contra ele, pode ser bem ruim.