Pais quando têm filhos, semeiam-se. Observo as crianças correndo pelo jardim e penso na coragem da semente-vida que habita cada corpo em desenvolvimento. Uns mais silenciosos, outros agitados, uns experimentando falar, outros que gesticulam feito maestros de um reinado ainda por ser imaginado. Espaço-terra que se constrói aos poucos. Solo germinado pelos dias. No entanto, assim como fazemos com as sementes de flores, às vezes, fazemos com as crianças. Talvez, pudéssemos ir mais devagar. Passos menores para dar tempo de olhar no olho, sorrir e apontar para o céu e ver o voo do pássaro. Passo-pé-de-formiga-viajandeira que vê o chão e seus mistérios. A minhoca, a folha que secou pela passagem do tempo, o esqueleto de algum inseto que cresceu e trocou de corpo. Quem cultiva um jardim, sabe do que falo. Cada flor desabrocha em seu tempo, mesmo diante de nossa ansiedade, exigência e expectativa. No entanto, desabrocha a seu modo. Me sento diante dos pequenos como me sento diante das centáureas e penso na vulnerabilidade da semente. Pequena, leve e sem experiência de terra. E tudo que ela precisa é de um lugar que a permita ser quem nasceu para ser. Mas ela será do jeito que veio para ser, não do jeito que eu quero que ela seja e isso não significa ser uma vingança contra mim. Nem contra você.
Para isso precisamos (re)aprender a respeitar o dia e a noite das sementes-filhos. Há dentro delas sol e lua, entardeceres e amanheceres, madrugadas, auroras, crepúsculos. Assim como há em nós. Dias de chuva-choro, de cerração-mau-humor, de umidade-tristeza. Dias de sol escaldante-raiva, de tempo árido-distanciamento, de necessidade de uma sombra-solidão da árvore do quintal. Toda semente, assim como os pequenos, assim como nós, precisamos atravessar as estações, mesmo que isso signifique não saber o que nos espera. Nunca estaremos preparados para o inusitado da vida. Não somos imunes às acontecências.
Talvez pudéssemos tentar afastar nossa atenção do relógio das expectativas que geralmente nos oprime. Nada de comparar uma semente com a outra. Crianças pequenas não precisam saber falar em inglês, contar o máximo de números, aprender as letras do alfabeto e recitar para os amigos verem. Precisam ser alimentados de sonhos e afeto, saber o que é ter um abraço acolhedor, encantar-se com a chuva, assustar-se com o trovão e ter para onde correr para se esconder. Nossas sementes-filhos precisam de solo nem tão seco, mas jamais encharcado. Às vezes os filhos são feridas narcísicas dos pais. Nasceram para dar um lugar para o pai e para a mãe. Dói falar sobre isso, sei, mas é preciso que possamos nos a ver com nosso desejo, sem culpa, mas mudar. E sim, toda mudança carrega em si um pedaço de morte. Abrir mão do desejo de que nossas sementes sejam o que não fomos ou tenham o que não tivermos, mata a natureza delas. Na natureza, as sementes nascem leves para voar para longe da árvore-mãe, pois perto jamais poderiam vir a ser adultas um dia.