Sou apaixonada por insetos. Talvez esse seja um resquício da infância em mim. Quando era criança passava horas observando os insetos no jardim da casa de minha mãe. Gostava de saber quem eram, do que se alimentavam e qual era a sua função na natureza. Pensando hoje, depois de adulta e apaixonada também pela poesia de Manoel de Barros, nada no mundo carece de uma função. Padecemos da falta de poesia. Mania que temos de capitalizar tudo. Às vezes penso que decidi ter um jardim para poder atraí-los. Entre os muitos besouros, grilos, abelhas, toda primavera aparece a Esperança. Verde, pequena e de pernas compridas, esse inseto precisa de um olhar atento e paciência para enxergá-lo. Camuflado entre as folhagens, com seu corpo em formato de cilindro e se parecendo com uma folha, para não me perder, procuro por suas antenas, que são maiores do que seu corpo. É pelas antenas que esse inseto miúdo tateia o mundo.
Dias atrás conversando com minha sogra, contando do encontro com a esperança no jardim, lembramos de Clarice Lispector e de seu encontro inesperado com o inseto dentro de casa. Ficamos pensando sobre como as esperanças se confundem, como ambas têm alma, corpo e vida.
Não está sendo muito fácil encontrar a esperança, não o inseto. Viver neste mundo requer uma dose de resiliência que nem sempre sabemos ter. Requer também que esperancemos dias melhores, com pessoas mais humanas e sensíveis. Às vezes é assustador nos depararmos com o outro humano que habita esta mesma Terra. Gente que parece ser feito de pedra, maciço, duro, insensível, quando não oco, vazio. Gente que debocha da dor do outro, sem empatia, que dirá esperar dessas pessoas um pouco de bom senso e ética.
Parece que, mais do que nunca, ainda vivemos tempos partidos, como dizia o poeta. O que talvez não nos demos conta é que o modo como nos relacionamos com os outros e com o mundo, diz do modo como nos relacionamos com nós mesmos. Só podemos dar daquilo que temos. Coisa mais simples e óbvia, talvez até clichê, você pensa. Então observe quem você é e o que anda fazendo ou dizendo por aí. Não é uma questão de ser um ser iluminado. Nada disso. É apenas uma tentativa de resgatar nossa humanidade. Nossa capacidade de nos chocarmos diante da maldade humana, diante da falta de ética, da falta de honestidade e da perversidade que assola o cotidiano. Falta nos assustarmos verdadeiramente com as coisas que ouvimos de pessoas com quem dividimos o dia a dia. Gente que cospe preconceito, crueldade, julgamentos, tem opinião para tudo e sim, é casado, tem família e vai à missa, ou qualquer outra religião, toda semana. Gente que faz uma coisa e prega outra. É preciso que tenhamos vergonha de nos comportar assim. Vergonha de falarmos tanta besteira.
Eu convoco aos esperançosos que tenhamos mais jardins, mais esperanças circulando por entre as folhagens e quiçá um dia, mais flores e insetos que essa gente.