A confirmação do primeiro caso de mpox em 2024 em Passo Fundo, no norte gaúcho, levantou dúvidas quanto à transmissão, sintomas e riscos da doença. O caso do município é um dos cinco do RS confirmados pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
Em entrevista a GZH Passo Fundo, o médico infectologista Gilberto Barbosa, do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), pontuou que a chegada do vírus era esperada, principalmente pelo grande fluxo de viajantes que chegam ou saem de Passo Fundo.
— Há uma movimentação grande de pessoas daqui para São Paulo, local que tem grande parte dos casos. É preciso observar como a transmissão vai se comportar. Quanto maior o número de casos, estaticamente é mais provável a chance de casos autóctones — disse.
Os casos autóctones são aqueles contraídos dentro do próprio município. O caso de Passo Fundo é configurado como importado, uma vez que o paciente foi diagnosticado após viagem a São Paulo (SP) no mês de julho.
Apesar da presença do vírus acender um alerta, a cepa detectada no Estado não é da nova variante da mpox (Clade 1b), 10 vezes mais letal e que fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar emergência sanitária global.
— Temos uma nova variante com mortalidade de 10%, enquanto que a anterior era de 1% e com capacidade de transmissão menor. Isso preocupa, mas por enquanto a situação aqui [no país] é tranquila, a maioria dos casos são leves e autorresolutivos — pontua o especialista.
Vacinação
Após a declaração de emergência, o Ministério da Saúde anunciou que negocia a compra da vacina que combate o vírus. No total, a pasta busca adquirir 25 mil doses com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Desde 2023, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso provisório do imunizante, cerca de 47 mil doses foram recebidas e mais de 29 mil foram aplicadas.
— Por enquanto, a vacina é aplicada em quem faz parte de grupos de risco, em pré e pós-exposição. O imunizante é importado, mas o Brasil trabalha para desenvolver uma vacina própria, que acredito que será nossa solução no futuro, por causa da alta na demanda — acrescentou Barbosa.
Nota divulgada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) na segunda-feira (19) afirma que o desenvolvimento de uma vacina brasileira contra a mpox é uma das prioridades da Rede Vírus, comitê de especialistas em virologia criado pelo Ministério.
A vacina é desenvolvida há dois anos no Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Quem pode receber a vacina no Brasil
- Pré-exposição: pessoas entre 18 e 49 anos que vivem com HIV/Aids e profissionais que atuam diretamente em contato com o vírus em laboratórios. Caso haja vacina disponível na rede, a imunização pode ser indicada também para indivíduos em situação de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP). Nesses casos, a orientação é que a aplicação da vacina seja feita com um intervalo de 30 dias entre qualquer imunizante previamente administrado.
- Pós-exposição: pessoas com mais de 18 anos que foram expostas ao vírus mpox por contato direto ou indireto com fluidos e secreções de uma pessoa contaminada, o que pode acontecer: pelo toque na pele ou mucosa; por relações sexuais; pela inalação de gotículas em ambientes fechados de convívio comum; pelo compartilhamento de objetos, especialmente os perfurocortantes. Nesses casos, a recomendação é que a vacina seja administrada em até quatro dias após a exposição. Apenas em situações excepcionais a imunização pode ser realizada em até 14 dias, mas com redução da sua efetividade.