Aos 29 anos, a professora Aline Beatriz Schmidt Vaz descobriu a possibilidade de fazer parte de um grupo seleto de pessoas: ela pode ser uma entre cem pessoas no mundo que nasceram com quatro rins. Moradora de Horizontina, no noroeste gaúcho, Aline descobriu a anomalia durante o tratamento de saúde, em 2021, e soube da raridade durante a divulgação do caso da bebê de Goiás que nasceu com os quatro órgãos, veiculado pelo g1.
— Na época eu havia perdido meu bebê e sentia dores muito fortes nas costas. Ao consultar, a ecografia mostrou uma disfunção renal de um lado e uma alteração de outro, como se meus rins fossem maiores que o normal. Continuamos investigando e, em um exame de contraste, veio o diagnóstico correto, de que se tratavam de quatro rins — relata.
O exame feito no hospital do município apontou a duplicidade de ambos os órgãos e que uma das duplas funciona independente do lado esquerdo, enquanto a direita se une pelo ureter, o canal que leva a urina para a bexiga. Quem verificou o caso pela primeira vez foi o médico obstetra de Aline, Rubens Bins, que acompanhava a gestação da paciente.
— Atestamos em exame em dezembro de 2021 que se tratavam de quatro rins, todos com funcionamento absolutamente normal. Ainda acompanhamos ela, mas a Aline vive uma vida sem nenhuma complicação — explica.
Apesar de curiosa, a descoberta não trouxe muitas mudanças na vida da professora. Hoje com 31 anos, ela vive uma vida normal, sem costumes diferenciados.
— Nunca olhei como se fosse algo tão importante, descobri que era tão raro ao ver o caso da bebê. Há dois anos levo uma vida normal e os quatro funcionam normalmente. A única questão que chamou a atenção foi a doação, que eu não poderei realizar — afirmou.
Até cem casos no mundo
Conforme o nefrologista Lucas Gobetti da Luz, vice-presidente sul da Sociedade Brasileira de Nefrologia, casos como o de Aline são raríssimos. A incidência estimada reportada na literatura de casos de três rins seria de um a cada 26 mil casos, enquanto a de quatro órgãos, seria de menos de cem no mundo.
A localização e o tamanho dos órgãos também pode variar. Segundo o especialista, é normal que as duplas estejam mais para cima ou para baixo e que sejam menores ou maiores que o normal. Por estarem ligados à principal veia e artéria do corpo humano, os rins também podem vir acompanhados de outras anomalias nestes vasos para comportar os órgãos.
— Nestes pacientes, há uma chance aumentada de ter pedra ou cistos. Casos de infecção urinária de repetição também têm uma possível chance maior de acontecer em quem tem alteração. Mas há exames específicos, como a cintilografia renal, que aponta o funcionamento de cada rim, para saber onde podem estar os problemas — explica o médico.
Quanto a possibilidade maior de que a anomalia apareça também nos filhos destes pacientes, Gobetti afirma que a raridade dos casos traz a falta de embasamento literário para afirmar ou não o aumento da probabilidade. Por isso, não se descarta a possibilidade.