Por Julcemar Zilli, economista
Nos últimos 60 dias, o mercado da soja tem sido palco de significativas mudanças. O preço desse grão essencial caiu no Porto de Paranaguá em 15,17%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), passando de R$ 143,59 para R$ 121,81 por saca. Esta flutuação, porém, não se limita apenas ao produtor, pois também atinge diretamente os consumidores finais.
Uma consequência direta do declínio no preço da soja é a redução no custo do óleo de soja para a alimentação. Nos supermercados de Passo Fundo, segundo dados do levantamento mensal da cesta básica realizado pelo Curso de Ciências Econômicas da Universidade de Passo Fundo (UPF), observou-se uma diminuição de 8,81% no preço desse item essencial à culinária brasileira. Para os consumidores, isso representa uma boa notícia, pois o valor mais acessível do óleo de soja reflete diretamente nos gastos domésticos.
Contudo, a face oposta dessa moeda revela uma realidade preocupante para os produtores de soja. O setor agrícola, que depende fortemente dos rendimentos da produção do grão, enfrenta um momento de apreensão diante das quedas de preço. Muitos agricultores, que já enfrentam desafios constantes, agora se veem diante de uma pressão adicional.
A preocupação dos produtores é justificada, uma vez que a queda acentuada nos preços pode comprometer a viabilidade econômica de suas operações. Investimentos, custos de produção e margens de lucro estão sob ameaça, gerando incertezas sobre o futuro da agricultura de soja no curto prazo.
Curiosamente, esse cenário não parece ser uniforme em todas as regiões. Empresas localizadas em Passo Fundo, por exemplo, estão quebrando recordes de exportação de soja em 2023. Isso pode ser interpretado como uma estratégia de busca por mercados mais favoráveis internacionalmente, contrabalançando as quedas nos preços domésticos, gerando maior competitividade da commodity no mercado externo. No entanto, vale ressaltar que essa aparente contradição levanta questionamentos sobre a sustentabilidade desse modelo a longo prazo.
O desafio, portanto, é encontrar um equilíbrio que beneficie tanto os produtores quanto os consumidores. Uma queda excessiva nos preços pode comprometer a produção agrícola, enquanto uma alta constante pode impactar negativamente os orçamentos familiares. O debate em torno dessas questões é crucial para garantir um setor agrícola robusto e estável, capaz de sustentar tanto os que cultivam quanto os que consomem a tão vital commodity brasileira, a soja.
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