Componente essencial no mercado de panificação, massas e novos segmentos de nutrição animal, o glúten vital é uma proteína extraída do trigo. No Brasil, a demanda pelo produto resulta na sua importação total já que não há produção nacional. Em 2023, foram importadas 21 mil toneladas do produto para o país. Seria possível contornar o cenário e impulsionar a produção própria do alimento, aliado ainda às práticas sustentáveis?
A partir desse desafio, a Be8, empresa gaúcha de Passo Fundo, encontrou a solução para a questão por meio da geração de energias renováveis, atuação central da nova Usina de Etanol da empresa. O projeto pioneiro no país para produção de biocombustível a partir de matérias-primas como trigo e triticale, utilizará cultivares desenvolvidos por empresas de melhoramento genético que atendem as especificações e exigências do mercado. Além de ser uma alternativa sustentável e inovadora, possibilita ainda a produção em larga escala de glúten vital, um concentrado proteico obtido a partir da farinha de trigo, único em sua capacidade de gerar elasticidade em massas alimentícias e aglutinar misturas.
A medida adotada pela Be8, de integrar a linha de produção do glúten ao processo de geração do etanol, possibilita aproveitar a mesma matéria-prima para fins distintos, extraindo a proteína do cereal para o mercado alimentício e o amido para o setor energético. A integração resultará em números surpreendentes, como uma capacidade de produção de quase 27 mil toneladas/ano de glúten vital.
– A Be8 vai suprir o mercado brasileiro de forma integral e dispor ainda de capacidade para atender o Mercosul, como Argentina, Uruguai e Paraguai, e também o Chile. Vamos assegurar um fornecimento estável, o que vai favorecer os preços de mercado e abrir caminhos para novas parcerias. Tanto os produtores de trigo, quanto as indústrias de alimentos e de nutrição animal, serão beneficiados – avalia o presidente da Be8, Erasmo Carlos Battistella.
A perspectiva de um aproveitamento total do quantitativo produzido se dá em razão da multiplicidade de utilização do glúten vital e de suas características biológicas. O produto é extraído da farinha de trigo após o processo de formação de uma massa, que é lavada com água para separar o glúten-proteína do amido-carboidrato. O glúten é submetido a desidratação, que reduz seu teor de água, passa por um processo de secagem, é moído para novamente se tornar pó e ser vendido para os mais diferentes usos.
Marcado nacional
Sua aplicação se torna essencial no mercado alimentício, especialmente, no processo de fortificação de farinhas, considerando a necessidade de farinhas fortes principalmente para a produção de pães. O glúten vital adicionado retém os gases produzidos durante a fermentação e favorece o crescimento e o volume dos alimentos. Segundo Battistella, a expectativa da companhia é abastecer o mercado nacional a partir de 2026 e estudar, posteriormente, a comercialização internacional do produto:
– A Be8 será a primeira empresa do país nesse segmento que, com inovação e alta tecnologia, vai gerar valor ao produzir de forma sustentável e, ao mesmo tempo, mais energia renovável, alimento humano e animal.
Financiamento
Com financiamento superior a R$ 720 milhões, por meio do Programa BNDES Mais Inovação, de um total estimado de R$ 1 bilhão, a nova Usina de Etanol da Be8 não contempla apenas a produção de biocombustível e de glúten vital. O investimento significativo da companhia deve representar ainda um incremento importante na oferta de farelo para as cadeias produtivas de proteínas animais. Também conhecido como DDGS (Distiller’s Dried Grains with Solubles) ou Grãos Secos de Destilaria com Solúveis (em português), o farelo é resultado do processo fermentativo de produção do etanol.
Com grande potencial de utilização na composição de rações animais, a Be8 estima que sejam produzidas cerca de 155 mil toneladas de farelo ao ano, direcionadas à cadeia de proteína animal.