Diariamente a rotina dos moradores de Passo Fundo, no norte do Estado, é preenchida por nomes de pessoas: Nicolau Araújo Vergueiro, Ernesto Tochetto e Coronel Chicuta são algumas das referências geográficas utilizadas no centro da cidade, no ir e vir passo-fundense.
Em comemoração aos 167 anos do município, GZH Passo Fundo relembra quem eram as personalidades que fizeram história nos séculos passados assim como aqueles que escreveram seu legado recentemente.
Para entender os motivos que levaram as primeiras homenagens é preciso pensar na década de 1850, quando Passo Fundo começou a nomear seus endereços, como explica o historiador Djiovan Carvalho:
— Quando Passo Fundo começa se organizar como município em 1857, definindo seus limites e estradas, a “vila” também é organizada. As primeiras ruas são nomeadas em 1858, e reformadas em 1865 com a nomeação da “Rua do Comércio”, hoje Avenida Brasil. Em paralelo temos a “Paissandú”, em referência a batalha da guerra no Uruguai, e a “Morom”, referência a batalha de Morom. Seguidas de dois nomes de rio, a “Uruguai” e a “Jacuí”, que é substituída por “Independência” em 1922.
A partir da definição das ruas centrais, acontecimentos marcantes servem de inspiração para as nomenclaturas dos demais endereços. As primeiras ruas a serem batizadas com nome de pessoas foram Teixeira Soares e Marcelino Ramos.
As escolhas aconteceram com os dois homenageados ainda em vida, em 1821, e têm relação com a chegada do trem na cidade: Teixeira era o engenheiro que construiu a estrada de ferro e Marcelino o financiador do empreendimento.
— O trem ainda não havia chegado, era apenas uma notícia, mas já causava impacto na cidade. É interessante de se analisar porque são indivíduos que não têm absolutamente nenhuma relação com Passo Fundo, mas foi uma forma que o presidente da junta governativa encontrou de homenageá-los — aponta Carvalho.
No início do século 20, a cidade vai se expandindo e novos nomes aparecem, mas com personagens que figuram no contexto estadual, como General Neto, Bento Gonçalves e Fagundes dos Reis, em referência à Revolução Farroupilha.
Além deles, há Coronel Chicuta, republicano paranaense morto em 1892 na Avenida Brasil, em Passo Fundo, e Capitão Eleutério, republicano que morreu na Revolução Federalista.
As figuras locais, do cotidiano da cidade, começam a aparecer através da Rua Capitão Araújo, da Praça Professor Ernesto Tochetto e do bairro Nicolau Araújo Vergueiro. Na história atual, também destaca-se o Espaço Cultural Roseli Doleski Pretto.
— Se pegarmos o mapa da cidade conseguimos entender os segmentos muito claramente, porque sempre há uma relação às épocas e períodos de sua história. Muitas ruas do centro também levam nomes de dias e meses, que marcam a proclamação da República, Independência do Brasil, Revolução Farroupilha e as datas do aniversário da cidade e do município.
De onde vêm os nomes?
Conheça o contexto para os nomes de três locais da cidade: Praça Tochetto, bairro Vergueiro e Espaço Roseli Doleski Pretto.
Professor Ernesto Tochetto
Referência geográfica para quem visita o centro de Passo Fundo, a Praça Ernesto Tochetto não “nasceu” com este nome. Inicialmente foi denominada “Praça da República”, marcando o regime republicano, e depois passa a homenagear o político republicano Maurício Cardoso.
— Com o passar do tempo algumas coisas foram renomeadas na cidade, como a praça. Ela chegou a levar o nome de um político, mas como o nome “não pegou”, foi reformulada em 1956 para homenagear o professor. Assim são inseridas as classes, a sala de aula e o monumento — explica Carvalho.
O professor Ernesto Tochetto morreu em 1956, aos 54 anos, com trajetória marcante na cidade por cativar os estudantes. Para homenageá-lo, o local possui arquitetura que lembra uma sala de aula: seu busto foi colocado a frente de um painel que remete ao quadro negro, a frente de inúmeras placas que representam classes, como forma de atribuir a ele a posição de professor.
Nicolau Araújo Vergueiro
Homenageado em bairro nobre na área central da cidade, Nicolau Araújo Vergueiro foi o primeiro médico passo-fundense. Com berço tradicional e político, se tornou um importante político gaúcho, com passagens pela prefeitura, em cinco legislaturas seguidas como deputado estadual e uma como deputado federal.
— Ele é neto do primeiro presidente da Câmara e acaba atuando em Passo Fundo como médico e político pelo partido republicano. O bairro Vergueiro era onde a sua família se consolidou e acabou levando o nome dele — aponta o historiador.
Roseli Doleski Preto
Já Maria Roseli Doleski Pretto faz parte das homenagens do século 21. A artista plástica e professora morreu em 2002 após anos de atuação na área cultural da cidade. Teve participação nacional e internacional em exposições de artes, onde teve as obras premiadas integrando acervos de museus Brasil afora.
Em memória de sua dedicação e trabalho, seu nome compreende ao Espaço Cultural onde estão os prédios do Museu Histórico Regional, Teatro Municipal Múcio de Castro, Academia Passo-Fundense de Letras, Biblioteca Pública Municipal Arno Viuniski, e o Instituto Histórico de Passo Fundo.
— Roseli Preto tem atuação destacada junto a criação e organização dos museus de artes e reorganização do Museu Histórico Regional. Ali, onde hoje tem seu nome, foi seu lugar de trabalho enquanto coordenadora dos museus — comentou a coordenadora do Arquivo Histórico Regional, Gizele Zanotto.