Por Simone Bracht Burmeister, psicóloga mestre em Gerontologia Biomédica e coordenadora do Núcleo Longevidade do Cefi
Envelhecer é um processo natural, mas a longevidade que conhecemos hoje é uma criação da humanidade. Os avanços na ciência têm nos possibilitado viver mais. Há hoje uma legião de pessoas idosas tendo que se adaptar ao mundo, mas o mundo não está adaptado para elas. Não bastam pesquisas para se viver mais. É preciso investimento em pesquisas e políticas públicas para viver melhor.
As ruas estão cheias de pessoas idosas. Essas pessoas dirigem, trabalham, mesmo que o mercado não seja muito receptivo a elas, pagam suas contas e às vezes até sustentam famílias. Estão conectadas, usam a tecnologia com habilidade, têm seguidores nos seus perfis nas redes sociais. Estão nos mercados, nos teatros — no palco e na plateia —, na noite, se divertindo, dançando e namorando. A velhice não é o fim da vida. É mais uma etapa da vida.
É preciso falar sobre etarismo, um problema que pode atingir pessoas de diferentes idades, mas é mais comum com as pessoas idosas
Mesmo assim, os idosos ainda são vistos como pessoas frágeis, que geram custos para a sociedade e que não estão atualizadas. É preciso falar sobre etarismo, um problema que pode atingir pessoas de diferentes idades, mas é mais comum com as pessoas idosas. No caso da velhice, o etarismo está vinculado aos padrões sociais de beleza e juventude estabelecidos. Seguimos presos a conceitos antigos de velhice, que a estigmatizam e associam a doenças, demências e morte. É verdade que uma parte da população vai adoecer, mas o adoecimento também atinge os jovens. Envelhecer não é ruim, ruim é envelhecer sem qualidade de vida.
Enquanto não colocarmos luz sobre a velhice, assumindo que esta é mais uma fase da vida, ela será invisível e não vivida de forma plena. É preciso parar de buscar a eterna juventude ou tentar enganar o tempo. Pessoas mais velhas podem ser vistas como saudáveis, ativas, capazes e cheias de experiência. Não é o nome “melhor idade” que vai mudar a percepção negativa que a sociedade tem da velhice, mas a nossa postura diante do próprio envelhecimento.