Por Airton Tetelbom Stein, professor da UFCSPA e médico do Grupo Hospitalar Conceição, e Daniela Vianna, jornalista e comunicadora climática
A tragédia climática que nos deixou em estado de horror exige uma reflexão sobre como vamos nos reerguer enquanto sociedade. Este evento extremo é consequência da atividade humana, que há séculos extrai do solo o carbono e o queima, em forma de carvão, petróleo e gás natural, emitindo para a atmosfera, todos os anos, milhares de toneladas de gases de efeito estufa e provocando o aquecimento global.
Também é resultado do desmatamento e de práticas insustentáveis que desprezam as diferentes formas de vida e o equilíbrio dos biomas.
Já aumentamos a temperatura média do planeta em mais de um grau. As consequências, sentimos na pele. Eventos extremos ampliados em frequência e intensidade, secas, ondas de calor; a lista é grande.
Para proteger as populações, os sistemas de saúde têm dupla responsabilidade na resiliência climática: uma, reduzindo sua pegada de carbono; outra, adaptando-se ao novo "anormal" do clima
A crise climática chega como uma fatura indigesta e afeta em cheio a saúde humana, atingindo um SUS já sobrecarregado. O maior impacto ocorre nas populações vulnerabilizadas, que padecem com o histórico de dificuldades de acesso a intervenções efetivas nos serviços de saúde, agravando a injustiça climática.
Na COP 28, foram apresentadas, pela primeira vez, evidências inequívocas dos impactos da crise climática à saúde, que vão desde doenças relacionadas ao calor até a insegurança alimentar, passando pela disseminação de doenças infecciosas. Os próprios sistemas de saúde são responsáveis por cerca de 5% das emissões mundiais.
Portanto, para proteger as populações, os sistemas de saúde têm dupla responsabilidade na resiliência climática: uma, reduzindo sua pegada de carbono; outra, adaptando-se ao novo "anormal" do clima. É fundamental a ampliação da capacidade e da qualidade de atendimento, seja na promoção de saúde e na prevenção de doenças, seja no preparo para a sobrecarga oriunda de eventos extremos.
O campo transdisciplinar de pesquisas e ação da Saúde Planetária surge em resposta a esses desafios. Estuda os impactos que nós provocamos no meio ambiente, e o quanto esses ecossistemas, em desequilíbrio, afetam e colocam em risco a nossa saúde; pandemias e crise climática estão sob esse guarda-chuva. Busca proteger as gerações presentes e futuras e promover a equidade e a justiça intergeracional e intrageracional.
Neste momento, em que precisaremos reerguer um Estado inteiro, são fundamentais estratégias de apoio às comunidades — principalmente àquelas em vulnerabilidade social —, com a implementação de medidas preventivas. Torna-se essencial, ainda, introduzir a Saúde Planetária nos currículos de ensino de todos os níveis e considerá-la como premissa do plano de reconstrução.