Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Está em pauta novamente a liberação de comercialização e consumo de bebidas alcoólicas nos estádios do Rio Grande do Sul, que foram proibidos em 2008. Naquela ocasião, a proibição foi aprovada para ser ferramenta de controle de brigas, tumultos e violência nos eventos esportivos. A lógica operacional é simples: ingestão de álcool potencializa ações violentas; logo, retirar este elemento teria efeito pacificador.
Desde então, observou-se, na média, uma diminuição da violência em estádios. No entanto, para muitos defensores da atual proposta de liberação, isso não poderia ser atribuído à restrição do acesso ao álcool. Argumenta-se que não há “estatística” ou “comprovação técnica” de que a violência foi reduzida por causa disso. A situação melhor, hoje, seria fruto de outras questões, como o aprimoramento dos circuitos internos de TV e o melhor controle de torcidas organizadas, de modo que a liberação do consumo de álcool não voltaria a agravar os níveis de violência.
De fato, são escassos os estudos na literatura que buscam medir o impacto da restrição do álcool sobre o comportamento das pessoas em eventos, enquanto uma política pública. E isso se dá pelas dificuldades no acesso a dados e na implementação de algumas metodologias robustas de avaliação de impacto. Mas, ainda assim, existem elementos técnicos a serem avaliados e a possibilidade de estudarmos (muito) mais o tema.
Hoje, ao que parece, o principal argumento está baseado no fato de que não existiria evidência cabal de que a restrição ao álcool nos estádios contribui para redução da violência
Hoje, ao que parece, o principal argumento está baseado no fato de que não existiria evidência cabal de que a restrição ao álcool nos estádios contribui para a redução da violência. O que se deixa de considerar, ao adotar esta postura, é que esta mesma alegada falta de evidência da relação álcool versus violência estabelece a incerteza sobre as consequências da retomada da sua liberação. Se não sabemos se foi o álcool que fez reduzir a violência, não há como garantirmos que sua volta não piorará a situação. A falta de evidência da relação causal é bidirecional!
Dito tudo isso, meu ponto é bastante simples: estamos pensando em política pública de maneira torta. Estamos discutindo uma política pública ancorados não em evidências que balizem posicionamento, mas, pasmem, na sua ausência! A lógica está invertida. Enquanto não temos evidências que nos tragam maior segurança decisória, me parece que a parcimônia é a melhor alternativa. Estudemos, antes de decidir.