Por Daniel Randon, CEO das Empresas Randon e Presidente do Conselho do Transforma RS
O ano de 2022 bate à porta trazendo novos e também velhos desafios. Um deles, e que conta com a penosa e histórica experiência dos brasileiros, é o da inflação alta, um fenômeno mundial, neste momento causado principalmente pelo período de pandemia, que contribuiu para uma enorme volatilidade com choques de oferta, escassez de matérias-primas, custos de energia e de outras commodities, além de bilhões em incentivos e auxílios injetados pelos países.
Os juros internacionais em alta para conter a inflação impactam na valorização do dólar o que, em parte, pressiona ainda mais a inflação no Brasil e em outros países. O aumento de competitividade das exportações fica limitado somente no curto prazo, já que toda a cadeia também tem incremento dos custos. Por isso, elevar os juros é o remédio mais simples e amargo, mas não resolve a causa.
Na questão da Covid, continuamos em alerta porque apesar do avanço da vacinação, a pandemia teima em permanecer entre nós, agora com a chegada da nova variante. Ainda que pareça menos nociva, a Ômicron é altamente preocupante aos olhos dos mercados, que assistem a volta de lockdowns em alguns países, a restrições em algumas viagens e ao cancelamento de réveillon e outros eventos geradores de grande movimentação de pessoas e de consumo, seja de produtos ou de serviços.
Elevar os juros é o remédio mais simples e amargo, mas não resolve a causa.
Ao mesmo tempo, modelos de negócios, produtos e serviços estão passando por transformações. Tudo graças à força das tecnologias disruptivas exponenciais que contribuem para reduzir custos e ineficiências de um produto, processo ou de uma cadeia, impactando na redução da inflação globalmente.
Estamos diante de um enorme desafio para controlar a inflação e projetar o cenário do crescimento do PIB para 2022. Mas sabemos que o mundo pode estar num novo ciclo onde outras variáveis começam ter mais impacto e mais volatilidade do que as utilizadas nos cálculos atuais, o que serviria de base para a aplicação da dose certa do remédio. A pergunta que fica é: qual o racional dos Governos injetarem bilhões de recursos em um primeiro momento e, logo em seguida, tirar o auxílio com aumento de juros?
Enfrentemos, então, mais um ano que desafia a nossa resiliência. Que tenhamos boas e saudáveis comemorações no apagar das luzes de 2021 e no acender da esperança de 2022. Novos tempos requerem novos instrumentos para agir num mundo cada vez mais complexo!