O incêndio iniciado na noite de quarta-feira que destruiu o prédio da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado deixa tristezas e lições. O desaparecimento de dois bombeiros que combatiam as chamas configura um profundo drama humano, pelas circunstâncias e pela natureza dos fatos. Bravura é, sem dúvida, um dos ingredientes que dão forma ao ethos da corporação que combate o fogo e salva vidas. O que se deseja, porém, é que o exercício desse atributo fique restrito ao imposto pelo imprevisível. Não foi o que aconteceu na Avenida Voluntários da Pátria, na Capital. Quando vidas se perdem desse jeito, é dever buscar lições e caminhos para impedir a repetição de um sofrimento evitável.
É inadmissível que o poder público, o mesmo que corretamente cobra de empresas e de cidadãos o cumprimento rígido dos planos de prevenção contra incêndios, dê exemplo na direção aposta
Não é novidade que o Estado, no sentido mais amplo da palavra, perdeu, nas últimas décadas, capacidade de atender às suas obrigações, sejam internas, sejam externas.
Nesse contexto, a sociedade se acostumou com o fato de o quartel-general da segurança gaúcha funcionar em um ambiente inseguro, um prédio antigo, improvisado, abarrotado de material inflamável e sem a estrutura necessária para evitar as cenas que correram o Brasil durante a semana passada.
É inadmissível que o poder público, o mesmo que corretamente cobra de empresas e de cidadãos o cumprimento rígido dos planos de prevenção contra incêndios, dê exemplo na direção oposta. Quando o calor do prédio agora em ruínas arrefece, cabe às autoridades o rastreamento urgente de outros pontos de risco.
Cobra-se eficiência e comprometimento da máquina estatal. A velocidade com que as labaredas se espalharam no prédio da SSP e a impotência para evitar que isso acontecesse revelam, porém, um outro lado desse justo clamor. Nem sempre os servidores públicos encontram condições para exercer seu trabalho com qualidade. Estudos e pesquisas na área dos recursos humanos comprovam, não é de hoje, que o salário, muitas vezes, não é o principal fator de motivação na vida profissional. Reconhecimento, perspectivas de crescimento e um bom ambiente, que passa também pelas instalações físicas, são de fundamental valor em organizações que prosperam.
Que o novo prédio que abrigará a Secretaria de Segurança Pública, com seus diversos órgãos e braços, ofereça tudo isso a seus ocupantes. E que não ocorram novos incêndios para que as lições sejam aprendidas.