Por Pedro Ruas, vereador eleito mandato 2021/24
Porto Alegre notabilizou-se, em 2020, no cenário nacional, pela eleição da bancada dos jovens negros, numa demonstração da vontade da população de ver-se mais representada — inclusive etnicamente — no Legislativo Municipal. São quatro mulheres e um homem que, pela sua trajetória de lutas sociais, receberam o reconhecimento das urnas na Capital gaúcha, sendo a Vereadora Karen Santos a mais votada. Ao mesmo tempo, a sociedade deu aos partidos de esquerda (PSOL, PT e PCdoB), de onde são oriundos esses jovens, votações consagradoras, que representam um terço de toda a votação proporcional do município. Só no PSOL, por exemplo, estão os dois Vereadores mais votados que, juntos, tiveram mais votos do que 10 dos eleitos em outras siglas.
Em todo esse tempo, nunca vi tamanha tentativa de exclusão ideológica da gestão de um Poder Legislativo
Seria justo — e esperado — que tamanha representatividade aparecesse nos cargos de gestão da Câmara Municipal, começando pela própria mesa diretora, passando pela presidência das comissões temáticas, alcançando todas as áreas pelas quais atua a chamada Casa do Povo. Essas estruturas funcionais da Câmara são poderosas e importantes, posto que são sua máquina de funcionamento.
Esse será o sétimo mandato que cumpro, com muita honra, contando um de deputado estadual. Em todo esse tempo, nunca vi tamanha tentativa de exclusão ideológica da gestão de um Poder Legislativo. As bancadas governistas alinharam-se, em uma espécie de "acordo", tentando impedir que os partidos de esquerda tenham qualquer espaço de poder.
Tratando-se de uma democracia representativa, é absurdo o que está acontecendo: os vereadores e os partidos mais votados estão sendo alijados da gestão da Câmara, o que inclui — tragicamente — a magnífica representação dos jovens negros eleitos, posto que todos integram os partidos excluídos das posições de mando. Isso é triste e, ao mesmo tempo, contraditório: a cidade que foi a primeira do país a abolir a escravidão (em 1884), que sediou a gloriosa Legalidade, que foi a primeira sede do Fórum Social Mundial, vira símbolo de retrocesso e desrespeito à vontade popular.