Por Sandra Barbosa Parzianello, cientista política, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPel
A vizinha nação da Argentina elegeu no domingo (27), o candidato de esquerda, Alberto Ángel Fernández, do Partido Justicialista, para Presidente da República. Teria chegado ao fim a democracia neoliberal na Argentina com a ascensão ao poder do populismo de esquerda, ao molde latino-americano?
Ao longo dos quatro últimos anos do governo republicano de direita, com Maurício Macri, o povo argentino sentiu o seu poder aquisitivo cair, enfrentou o endividamento da população em meio à inflação crescente e à recessão, e viu o desemprego chegar ao índice de 10%, com a consequente retração da economia. Segundo dados divulgados pela imprensa internacional, o povo argentino está consumindo 20% menos de carne e tomando 40 % menos leite, que são alguns dos fatores que não sustentaram mais o jogo discursivo do governo Macri, apesar de sua tentativa em convencer os eleitores de que os ajustes na economia eram necessários.
O que o eleitorado mostrou nas urnas foi um elevado grau de insatisfação da população com a economia do país. Tudo indica que ressurja com esta eleição, mais uma vez, o legado peronista em meio ao cenário de crise e dos sinais recorrentes de corrupção. O povo argentino busca agora, no presidente eleito, Alberto Fernández, as respostas para suas crises diversas e aposta numa mudança propositiva, que possa sanar os anseios e as demandas reivindicadas pela sociedade e que se mostram ressignificadas pelos sentidos de esperança.
Fernández promete um governo próprio e não submisso ao kirchnerismo, mesmo tendo como vice-presidente eleita, Cristina Kirchner. Já ela, promete amplo diálogo com diversos setores da sociedade e em defesa pelo pacto nacional. A esperança de seu governo está na mudança da crise econômica e social que castiga a Argentina.
O atual fervor do populismo peronista, ainda forte entre os argentinos é uma marca histórica da democracia naquele país e se apresenta como um termômetro sobre o mal-estar econômico, mas também enquanto um fenômeno de referência. Se para uns, o fenômeno populista é um mecanismo de liberdade, para outros é um movimento desconfortável e um denominador que ameaçou e rearticulou a política na contemporânea Argentina. Alberto Ángel Fernández assume a presidência em 10 de dezembro e, com ele, Argentina pode estar antevendo uma história que regressa ao passado com olhar para um futuro, à medida que decidiu rejeitar o presente.