Por Ricardo Lins Portella Nunes, coordenador do Conselho de Infraestrutura da Fiergs
Quando se fala em tabelamento de frete, um dos assuntos que estão no radar do setor produtivo neste momento, temos como resposta imediata o prejuízo para a competitividade da economia. Por definição, a indústria é contra o controle de preços, defende a livre-iniciativa e considera uma flagrante interferência do Estado nas relações econômicas privadas. O tabelamento dos preços mínimos dos fretes viola a livre concorrência, desorganizando o relacionamento comercial entre as indústrias e os transportadores. Em um modal de transportes como o brasileiro, predominantemente rodoviário, a elevação do custo das empresas que utilizam o serviço de fretes resultará em aumento do preço final da maior parte das mercadorias, repassado aos consumidores.
O Conselho de Infraestrutura da Fiergs analisa os gargalos da competitividade que passam pelo déficit da infraestrutura e de uma matriz logística ineficiente, entre outros. No caso da tabela de preços, a eficiência dos segmentos industriais é prejudicada. O setor de alimentos é um dos mais afetados com a elevação nos custos. Os números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) estimam que com o tabelamento os fretes podem sofrer aumentos médios entre 25% e 65%. Revelam ainda que o transporte de arroz pelas estradas custará 35% a 50% a mais no mercado interno, podendo dobrar de preço no caso das exportações. Na indústria de aves e suínos, o impacto do tabelamento rodoviário foi calculado em 63% e o frete de rações tenderia a aumentar mais de 80%.
O tabelamento causa aumento geral de preços à população brasileira devido à alta dependência rodoviária do país. Como consequência, gera a paralisação da produção pelo elevado custo de insumos e pode também resultar na compra de frota por grandes grupos, gerando desemprego até de caminhoneiros autônomos. Em síntese, as transportadoras perdem competitividade, a indústria sofre com aumento de custos e o consumidor final vai sentir no seu próprio bolso o reajuste. Só a retomada do crescimento, que passa necessariamente pela simplificação do sistema tributário, poderá reverter o atual quadro do setor de transporte de carga rodoviário.