Por Cris Netto, escritora
As crianças são uma parte de nós, nossa melhor parte. São tábulas rasas, livres de preconceitos, sejam eles de gênero, raça ou religião. Se observarmos duas crianças brincando, veremos, em um primeiro momento, que elas repetem os gestos uma da outra, como se estivessem em frente a um espelho. Por isso a inocência e a pureza em suas brincadeiras. Elas querem agradar a si mesmas e desempenham as atividades da melhor forma possível, de modo a se tornarem iguais aos pais, os adultos, os exemplos que têm de ídolos e de heróis.
Infelizmente, nossa face adulta não é mais tão inocente, fomos contaminados por crenças limitantes e preconceitos que nos privam de ver o mundo como elas veem e por estarmos presos nesses condicionamentos, muitas vezes censuramos a inocência dos pequenos, achando que estamos protegendo e ensinando. Na verdade, estamos toliendo e retardando o processo livre e criativo do amadurecimento e mostrando-lhes a nossa verdade, como se verdade deles também devesse ser.
Temos o dever de protege-los, mas talvez, nesse mundo tão doente em que vivemos, o melhor jeito de proteger a inocência das crianças seja como no filme Bird Box, colocando uma venda imaginária sobre nossos olhos, deixando-os livre para descobrirem, quando estiverem em um território seguro, quais as cores que lhe caem melhor e o que os conforta enquanto seres completos e puros.
As crianças de hoje já nascem com uma bagagem espiritual maior do que as nossas, são mais sensíveis e inteligentes do que quando éramos crianças. Naturalmente nossos filhos pequenos têm mais destreza para relacionarem-se com situações ditas delicadas, como a discussão de gênero do que nós, adultos, que fomos criados em uma cultura muito mais repressora e retraída.
Se não atrapalharmos as crianças com nossas opiniões e preconceitos e ouvirmos e interpretarmos o que elas expressam, aprenderemos muito mais sobre igualdade, ética e empatia do que qualquer cartilha possa ensinar. Nosso dever como pais, educadores, responsáveis, influenciadores é protege-las desse mundo doente e aprender com elas, com sua empatia e sua pureza.