Por Fernando de Oliveira Souza, médico
O Brasil, com sua jovem democracia, ainda procura acertar o tom. Pendulando da esquerda para a direita e vice-versa, um dia achará o ponto certo , ou não.
Oe eleitores de Jair Bolsonaro o fizeram com a convicção de que, mesmo não sendo o candidato ideal, era o certo para o momento político do país e mexer no Sistema. Sendo assim, já eleito, ele vem demonstrando que vai fazer muito do prometido na campanha.
A questão do atendimento médico no Brasil é extremamente complexa pelo fato de termos vários “países” dentro de um só. Ao participar do Projeto Rondon na época da Faculdade de Medicina e atender populações ribeirinhas do Rio Solimões na Amazônia, vendo aquelas pessoas com desnutrição crônica e bebendo água do rio, cheguei à conclusão de que o enfrentamento deste problema seria o décimo-terceiro trabalho de Hércules.
O atendimento a estas populações não requer um pós-doutorado em Harvard e sim um profissional que saiba lidar com questões básicas de saúde e mesmo de educação. Nestes locais, obviamente, não existe uma estrutura mínima de apoio ao médico como laboratórios de análises clínicas e muito menos de diagnóstico por imagem.
Onde estão estes profissionais ?
Na Faculdade de Medicina, a maioria dos alunos é atraída pelas altas especializações com suas sofisticações tecnológicas para conseguir uma posição destacada no concorrido mercado de trabalho das grandes cidades. Pois este profissional é justamente o oposto do anterior e só conseguirá trabalhar em grandes centros. Cabe então às Escolas de Medicina estimular seus alunos ao direcionamento para o médico de família, aquele que antigamente era o clínico geral e resolvia quase todos os nossos problemas de saúde. Hoje em dia, com a especialização vigente, o paciente tem de decidir se, para resolver um problema na sua perna, tem de procurar um ortopedista ou angiologista.
A saída dos médicos cubanos causará um vazio assistencial.
A solução passa por transformar a profissão médica em uma carreira de Estado, à semelhança de juízes e promotores de justiça, designando-os para as comarcas necessárias. Enquanto isso não é possível, convocar os profissionais que estudaram em faculdade pública seria uma justa retribuição para a população que custeou seus estudos.
Quem irá nos salvar não será o Chapolin Colorado.