Jovens gaúchos com histórico de violência em sua família de origem e passagem por abrigos vêm tendo uma oportunidade inédita de fazer formação de nível superior. A possibilidade decorre de uma iniciativa do Ministério Público Estadual (MP) e do Ministério Público do Trabalho (MPT), como detalhou a reportagem Do abrigo à universidade, publicada ontem em Zero Hora. Um convênio entre essas instituições e entidades de ensino superior permite a concessão de bolsas de estudo para quem preenche requisitos predefinidos.
Trata-se de uma saída criativa e promissora para quem conseguiu se ver livre de uma vida de dificuldades graças ao acolhimento do poder público e não pode voltar às ruas, ao completar 18 anos, em condições de vulnerabilidade. Crianças e jovens abrigados enfrentaram problemas de todo tipo nos primeiros anos de sua existência. São situações que deixam marcas profundas, pois vão de maus tratos a abusos, cometidos geralmente nos lares dos quais são retirados. Por isso, o termo de cooperação interinstitucional se preocupa também em oferecer atendimento psicológico. A intenção é fazer com que se habilitem melhor a superar traumas. E, em consequência, que possam avançar no aprendizado quando há predisposição para seguir adiante.
Um dos pressupostos para quem quer se habilitar a essa chance é ter assegurado pontuação mínima no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). É justamente esse tipo de exigência que tem se constituído num dos entraves para beneficiar um número maior de abrigados, permitindo-lhes melhores condições de enfrentar a vida adulta. O programa tem condições de atender um universo maior de pessoas. Basta que mais instituições se mostrem dispostas a procurar a promotoria da infância para firmar convênios com esse objetivo.
A continuidade nos estudos, propiciada por iniciativa do Ministério Público Estadual e do Ministério Público do Trabalho, significa uma perspectiva de vida adulta melhor para crianças e jovens abrigados. Ações tão louváveis precisam contar com o apoio efetivo da sociedade civil, pois podem significar a redenção para quem garantiu a perspectiva de uma vida mais digna graças ao amparo do Estado.