Por Angelo Brandelli Costa, psicólogo, conselheiro do Conselho Regional de Psicologia do RS
Em junho comemoramos o mês do orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Ainda hoje encontramos grupos que defendem terapias conversivas, como a "cura gay", a despeito das evidências científicas e das regulações dos órgãos de classe. Atitudes que mostram como a sociedade ainda lida de maneira equivocada com a diferença, a diversidade e o sofrimento humano.
A recente atualização da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que retira questões relacionadas à diversidade de gênero e à transexualidade do capítulo de doenças mentais, deve pôr fim aos argumentos em defesa da "cura gay" e de terapias de conversão sexual no Brasil.
Neste ano, o Conselho Federal de Psicologia publicou resolução que impede que psicólogas e psicólogos realizem terapias que visem a converter a identidade de gênero de pessoas transexuais e travestis, além de proibir os pronunciamentos públicos de forma preconceituosa em relação a essas populações. Essa nova resolução soma-se a uma anterior, publicada em 1999, que proíbe terapias conversivas em relação a gays e lésbicas.
A proibição de práticas conversivas parte do reconhecimento de que a diversidade sexual e de gênero são variações da normalidade. Assim como uma pessoa pode ser destra e/ou canhota, a homossexualidade e a transexualidade são variações da natureza humana e se expressam de forma e graus diferentes em diferentes indivíduos. Tais condições, portanto, não podem ser "curadas" por profissionais de psicologia.
Pesquisas mostram que quando as pessoas buscam uma terapia para mudar sua orientação sexual ou sua identidade ou expressão de gênero, fazem isso pelo resultado da internalização do estigma social. Dessa forma, o objetivo do trabalho do profissional de psicologia é a mudança no contexto social intolerante e não nos indivíduos que são vitimados por ele. A psicologia não pode ajudar as pessoas a lidarem com o estigma promovendo tacitamente terapias de conversão – que sabidamente são inócuas e promovem altos graus de sofrimento. A psicologia deve ajudar a combater o estigma, compreendendo e curando o preconceito.