No diálogo de Sócrates e Fedro, narrado por Platão, não deixa de ser curiosa a posição aduzida pelo filósofo no que se refere à escrita. No mito, Platão relata que o inventor da escrita, o deus egípcio Thoth, leva seu invento a Thamuz, rei de Tebas, com intenção de que ele pudesse ser ensinado aos egípcios. No entanto, o rei admoesta que, ao confiar nos livros, os homens tornar-se-iam esquecidos, lembrando de assuntos por meio de sinais exteriores e não por si mesmos. Assim, eles seriam sábios imaginários e não verdadeiros sábios.
O texto de Platão antecipa as inúmeras críticas à leitura e à escrita na história, mas que convergem, em geral, para os mesmos pontos: o afastamento do leitor da realidade ou o conhecimento facultado como um saber artificial ou mesmo perigoso.
A leitura, hoje, goza de merecido prestígio e seu caráter educativo e emancipador que amplia o conhecimento de mundo é inegável.
Na obra Fim do livro, fim dos leitores?, Regina Zilberman lembra o personagem de Cervantes, Dom Quixote, que resolve ajustar sua existência ao mundo dos livros como exemplo de figura fictícia viciada em leitura e cuja vida é transformada pelo que lê. Conforme Zilberman, Cervantes reproduz, de maneira paródica, o que ocorria na sociedade europeia do século 16. No período, os conflitos religiosos acentuavam o temor pelas consequências de determinadas leituras, tanto que, antes de Dom Quixote, o Index Librorum Prohibitorum, índice de livros proibidos, é publicado pela Igreja no intuito de afastar os fiéis de textos considerados heréticos.
No entanto, a leitura, hoje, goza de merecido prestígio e seu caráter educativo e emancipador que amplia o conhecimento de mundo é inegável. Por isso, é essencial o apoio da sociedade e dos vereadores de Porto Alegre a políticas de incentivo à leitura, garantindo dotação orçamentária ao reconhecido programa Adote um escritor que existe há 17 anos. Iniciativas como essa não podem ser extintas sob pena de deixarmos leitores órfãos de obras que poderiam modificar suas vidas para melhor e para sempre _ ou ainda há quem pense que ler faz mal ou pode ser perigoso?