O editorial da edição do último fim de semana de Zero Hora, Imprudências ao volante, chama atenção para estatística do Detran-RS sobre acidentes automobilísticos com mortes no Estado. Menciona que "39% dos registros de vítimas fatais em ruas e avenidas ocorrem aos sábados e domingos", índice este relacionado ao fato de os motoristas dirigirem, por se tratar de dias de maior descontração, muitas vezes alcoolizados. Consequentemente, vê-se que 61% dos acidentes com morte em ruas e avenidas ocorreram sem embriaguês, mas por deseducação, descuido ou falhas no veículo.
Somente a educação integral dos jovens que vêm por aí poderá produzir cidadãos íntegros, agentes seguros do seu proceder, logo "bons motoristas".
Pode-se considerar que a maioria desses eventos – excetuados os por desatenção ou falha mecânica –ocorreu por falta de educação. Falta de educação para o trânsito? Não. Inexiste falta de educação para "algo". A falta de educação é substantiva, é uma essência em si, e ela, a educação que falta, é o pano de fundo de todas as ações do agente, não apenas no trânsito: é manifesta por comportamentos e procedimentos inadequados sempre. Falo da educação moral, e esta diz respeito a "o que devo fazer". A educação do indivíduo revela-se por ter ele internalizado o imperativo vital do contínuo questionamento: o que devo fazer? Portanto, quem bebe e dirige não é educado, pois está a fazer o que não devia. Trata-se dum indivíduo mal-educado na acepção do termo. Educados sabem que não devem beber e depois dirigir, assim como sempre se comportam naturalmente de forma adequada.
Assim, pode-se considerar que também entre os 61% de motoristas não alcoolizados que ocasionaram mortes em ruas e avenidas há parcela significativa de deseducados, gente que, por isso, é useira e vezeira a andar em velocidade acima da permitida, vive a executar ultrapassagens abusadas, a proceder manobras proibidas, a falar ao celular ou nele digitar mensagens enquanto dirigem, a buzinar.
O tipo que foi mal educado é um tipo perdido: certamente morrerá em sua má educação. A educação para o "que devo fazer", a moral, é caseira e escolarizada, e o adulto que não a revela na ação hoje, dificilmente a adquirirá.
A tal "educação para o trânsito", ou a reeducação, parece inócua, de efeito vagamente efetivo. Somente a educação integral dos jovens que vêm por aí poderá produzir cidadãos íntegros, agentes seguros do seu proceder, logo "bons motoristas". Estes só episodicamente causarão acidentes de trânsito, mortais ou não.