No artigo passado, dei minha opinião sobre o que acho da postura do gaúcho diante das dificuldades presentes. Em vez de observar (e agir!) sobre o presente, nos refugiamos nas tradições do passado, como se tivéssemos produzido tantas coisas para nos orgulhar.
Aguardei muitas críticas. Para surpresa minha, os elogios superaram, e muito, as críticas. Sinal de que estamos nos dando conta? Vieram comentários como: "Coragem de tocar nesse tema", "disse o que estava engasgado na minha garganta", "concordo 100% com o que disseste", "até que enfim leio algo que toca no centro do nosso problema".Das críticas, mais ataques pessoais, como: "Acordou de mal com a vida". "Quanto amargor!, somos grandes e fortes". "Que peça cidadania pra Albânia". "É um comunista querendo desfazer nossa identidade". "Foi embora pra SP e ainda quer interferir aqui". (Detalhe: continuo morando em POA!). Teve até gente que leu o que não escrevi, dizendo que ataquei Bento Gonçalves. Na dificuldade de defender argumentos, alguns partem para ataques pessoais (coisa bem característica das redes).
Dando segmento ao tema, se olharmos para a História, vemos que posturas como a de Américo Vespúcio fizeram com que existíssemos. Ele descobriu as Américas, no início da revolução científica, por volta do ano 1500. Admitia que não sabia muitas coisas sobre o mundo. E saiu a navegar sem verdades prontas. A Ásia, que se achava o centro do mundo, a Índia, o mundo islâmico e os astecas não tinham curiosidade em conhecer outros lugares. Ficaram para trás e alguns até acabaram. Os europeus que "desconfiavam" que não sabiam muita coisa, que tinham visão global e vontade de aprender, como ingleses, portugueses e espanhóis, conquistaram o mundo e se tornaram ricos, na época. A ciência e os impérios modernos foram motivados pela incessante sensação de que talvez algo importante os esperasse além do horizonte.
Curiosidade, abertura para o novo, fazer-se respeitar como povo (por exemplo, acabando com privilégios dos poderosos) são posturas que fazem a diferença entre uma república das bananas e um lugar decente para viver e investir. Sobre o tema, recomendo o livro NósOutros Gaúchos, (UFRGS Editora), que traz um excelente debate interdisciplinar sobre a identidade dos gaúchos.